Muitos ateus questionam – e bem – em que medida podem os crentes sustentar e até demonstrar a veracidade das hipóteses teológicas formuláveis. Partilho um trecho de Wolfhart Pannenberg onde me parece ser apontada uma pista.
«A análise filosófica do significado apenas pode operar se descrever sistematicamente a totalidade do significado que guia a sua reflexão, apesar de uma explicação sistemática deste tipo ser em si mesma não mais do que uma anticipação da totalidade do significado de toda a experiência implícita e apenas parcialmente definida, à qual está relacionada e na qual possui a sua verdade. Só pode demonstrar a sua verdade pela capacidade de integrar, e por isso iluminar, as efectivas experiências de significado. (…) A Teologia lida também com a totalidade do significado da experiência e deve estar ciente disso se quer saber o que está a dizer quando fala sobre Deus.» [1]

Quando se afirma que “O que podemos decidir aqui é se vamos aceitar como verdadeira uma hipótese. (…) Confrontar com os dados, ver se se adequa melhor do que as alternativas, ver quanto depende de outras hipóteses implícitas, quanto permite prever e quanto dessas previsões podemos julgar correctas.” (Ludwig Kripphal) e depois essa hipótese refere-se a Deus, sendo por isso teológica, o âmbito de análise é o da experiência de significado, não o da ciência natural. E não se averigua a verdade de uma hipótese teológica apenas com uma singular experiência de significado, mas integrando diversas experiências de significado. Resta, a partir daqui, pensar no que será uma experiência de significado …
Por outro lado, rejeita-se a possibilidade de analisar uma hipótese teológica com Teologia sob o argumento que esta tem como premissa a existência de Deus que é colocada como hipótese. Compreendo. Talvez a existência de Deus não seja uma hipótese sequer, mas uma experiência de vida e de significado que temos, ou que não temos ainda, ou que nunca iremos ter. E sobre essa experiência ou ausência dela assentamos as premissas com que partimos para um diálogo ou discussão sobre a existência de Deus. Penso que seria mais fecundo no debate cultural dialogar e discutir visões do mundo como passo preliminar para se falar da existência de Deus. Caso contrário, uma troca de comentários passa a uma amálgama de malentendidos sequenciais.

[1] Wolfhart Panennberg, “Theology and the Philosophy of Science”, Westminster Press, 1976, p. 224