Deserto

Por vezes sentimos algum desânimo em relação à dimensão espiritual da nossa vida. A isso associamos a imagem de atravessar um deserto por não sentirmos ou experimentarmos o mesmo vigor que antes. Usualmente, quando algo não está bem em mim, ou sinto-me aborrecido com as coisas de Deus, por assim dizer, questiono – “como está a minha relação com Deus?” Mas, qual a razão concreta que pode estar a afectar essa relação?

Anestesiados ambulantes

Noto à minha volta um certo “anestesianismo” em relação à vida espiritual, ou mesmo algum aborrecimento, e questionei-me porquê.

Penso que todos, de algum modo, reconhecemos como a entrada dos smartphones no quotidiano influenciou profundamente o modo como vivemos. A evidência mais simples é a forma como as pessoas andam na rua. Antigamente, olhava-se para o chão (para não pisar coisas que não se deve), ou em frente, mas agora olha-se sistematicamente para o telemóvel. De acordo com um estudo publicado na Accident Analysis & Prevention, entre 2004 e 2010, o número de acidentes com pessoas que andam olhando para o telemóvel quase que triplicou, e, actualmente, compara-se ao número de acidentes automóvel pela mesma razão.

Aborrecimento espiritual

E olhamos para quê? Basta uma viagem num transporte público para perceber. Se deres uma “espreitadela” vês as pessoas navegar pelas redes sociais, a jogar, consultar e responder a e-mails, e, ocasionalmente, alguém a ler um livro digital ou notícias. Porquê?

Ainda, por que razão a primeira coisa que fazes numa fila de espera é puxar do telemóvel e navegar pelas redes sociais, interagir nos chats (Messenger, WhatsApp, etc), ver se tens novas mensagens ou e-mails?

Porque estás aborrecido e precisas de estímulos.

Esse estímulo provém da dose de dopamina que o teu cérebro liberta ao interagires com o telemóvel no âmbito dos exemplos que dei anteriormente. Mas, se pensares bem, o que estás a consumir não é mais do que distracção. Aliás, passar grande parte deste tempo faz-nos menos felizes como reflecte na sua TED Talk Adam Alter, professor de marketing e psicologia na Universidade de Nova Iorque.

Excessos nunca nos fazem bem

Penso que ao consumirmos tanta distracção, quando estamos em momentos mais introspectivos, de reflexão, de oração, onde podemos desenvolver o nosso relacionamento com Deus, acabamos por sentir mais dificuldade nos tempos actuais que outrora. Esses momentos nem sempre são uma fonte de dopamina, mas antes de profundidade e experiência interior.

Neste sentido, um consumo excessivo de distracções creio estar na base de muito do aborrecimento espiritual vivido actualmente. E tal como uma boa dieta e exercício que nos mantém saudáveis, também devíamos aplicar uma espécie de dieta quanto ao uso do telemóvel. Como?

5 sugestões para uma rápida desintoxicação digital e recuperar do aborrecimento espiritual

  1. Escolhe uma hora para navegar e interagir pelas redes sociais e contabiliza o tempo de modo a não exceder os 15 minutos.
  2. Treina ter o telemóvel no bolso e, se vibrar, finge que não existe, de cada vez que estás a falar com outra pessoa.
  3. Medita ou reza nos tempos de espera.
  4. Encontra formas criativas de interagir com os outros de modo a ajudá-los, também, a ultrapassar a necessidade de estar sistematicamente a desbloquear e olhar para o telemóvel.
  5. Escreve à mão estas e outras experiências numa espécie de Diário Positivo. Pode ser essa uma fonte de gratidão na oração com Deus.

Experimenta e partilha a tua experiência nos comentários abaixo se quiseres.