Questionar é das coisas mais importantes e essenciais num diálogo entre Ciência e Fé. Mas é preciso ter uma atenção especial na forma como lidamos com essas questões. Será que todas as questões podem ser respondidas com ciência ou com teologia?
Recentemente li num artigo o seguinte pensamento.
Então, se o universo evoluiu ao longo do tempo, considerando haver as condições para que a vida sobrevivesse e florescesse de forma tão abundante, ao menos num planeta – será que isso quer dizer que o universo tem um propósito? Será que o cosmos estava destinado, de algum modo, a produzir vida?
Acabámos de saltar de uma questão científica para uma filosófica, mas o salto não é óbvio para todos. Muitas pessoas – incluindo cientistas – misturam frequentemente ciência e filosofia, deixando que cada uma semeie a outra com questões e ideias. Esta mistura de ciência com filosofia, ou fé na mesma conversa … é positivo, claro, mas apenas se estivermos cientes daquilo que estamos a fazer. Se quisermos fazer afirmações científicas, temos de estar cientes de quais as questões a ciência é, ou não, capaz de responder por si mesma.
Em suma, muitas vezes quando as pessoas entram num diálogo com ciência sobre a fé, ou com fé sobre a ciência, podem andar aos saltos com as questões e correr o risco de misturar água e azeite à espera que resulte, quando a água serve para cozer o alimento e o azeite para evidenciar o seu sabor. Ou seja, ambos servem para cozinhar uma refeição mas possuem funções distintas.
São João Paulo II afirmou uma vez que ”A ciência pode purificar a religião de erros e superstições. A religião pode purificar a ciência de idolatrias e falsos absolutos.” É possível errar na concepção que temos do mundo se a nossa visão assentar apenas na religião, pois, essa, através da teologia, pretende responder a questões últimas.
Por exemplo, se quisermos entender como o mundo evoluiu e recorremos aos textos sagrados, como a Bíblia, por exemplo, corremos o risco que fazer o que os criacionistas fazem. Levar a Bíblia à letra e afirmar que o mundo foi criado em 6 dias, ou 4000 anos, ou qualquer outra afirmação deste género diminui em muito a profundidade e o valor que tem a própria Sagrada Escritura para a nossa vida.
Como evolui o mundo é uma questão tipicamente científica e a ciência purifica a religião do erro de querer responder a essa questão. Agora, porque evolui sequer? Esta sim é uma questão filosófica e teológica. Ou seja, se pretendemos perceber melhor o sentido e significado de neste universo tudo evoluir, da razão de existir alguma coisa em vez de nada, então, a religião pode purificar a ciência de falsos absolutos como tudo provém do acaso. Se tudo proviesse do acaso, também o pensamento de que “tudo provém do acaso” seria casual e se “nada tem sentido”, então, também esse pensamento pode não ter.
Andar aos saltos nas questões pode ser enriquecedor, desde que não misturemos as respostas.
QUESTÃO: Existe, para ti, alguma questão que pode tornar impossível não misturar ciência com religião, e que ponha em causa o que as distingue?
Boas,
Entrei em contacto com este site/blog através do Amândio.
Pessoalmente, sempre foi algo que me agradou este diálogo e, não creio que haja incompatibilidade entre ambos. O que acho que pode haver é alguma falta de conhecimento suficiente como indivíduos e/ou como sociedade para integrar os dois campos num só, assim como somos integrados no nosso físico(matéria)/psíque/alma. Um exemplo de integração de ambos os campos é o Bosão/campo de Higs.
Cordiais saudações
De facto é um diálogo que nos impulsiona a estar numa posição de aprender sempre, mantendo a mente aberta e atenta. Obrigado pelo exemplo 🙂