Num artigo publicado na revista Zygon, a teóloga e especialista em biociência Celia Deane-Drummond começa por reconhecer que os debates académicos entre ciência e religião, ao abordarem as questões muito teoricamente, correm o sério risco de não chegar ao grande público que cada vez mais se interessa pelo tópico.
É necessária uma linguagem comum que todos possam entender. Drummond propõe a linguagem do assombro (wonder).
Cada vez mais os cientistas tendem a admitir que são as experiências de assombro, do maravilhoso, que os motivam na exploração dos mistérios da natureza e do universo. O próprio Richard Dawkins, no seu mais recente livro “The Geatest Show on Earth” termina dizendo que «estamos rodeados pelas mais belas, maravilhosas e inumeráveis formas, e não se trata de um acidente, mas da consequência directa da evolução pela selecção natural não aleatória – o único jogo na cidade, o maior espectáculo na Terra». Contudo, como afirma Drummond, «encontrar algo de maravilhoso através da ciência é uma experiência humana muito comum» e «um dos mitos da ciência poderá ser o assombro que gera». Mas, pergunta Drummond:
Até onde pode apontar o assombro em ciência no sentido do transcendente
de um modo que seja aceitável teologicamente?
Um ponto importante é que «Deus não pode ser descrito como um ser que encontramos de maneira semelhante a um encontro com o mundo natural». Porquê? Porque «o mundo natural reflecte uma imagem do Criador, e não o Ser do Criador enquanto tal, mesmo se tanto a experiência religiosa como a científica falam disso em termos de assombro». Neste ponto penso de maneira diferente de Drummond, isto é, o mundo natural reflecte mais uma experiência da presença do Criador do que uma Sua imagem.
Porém, o assombro apenas não chega. É preciso também que a sabedoria faça parte do alcance que tem a experiência de vida de cada um. Para Drummond «a sabedoria, tal como o assombro, é um motivo que aponta para o alcance da experiência e uma alargada audiência (…). A sabedoria fala de um modo de raciocinar que aponta para impressões e intelecções, em vez que formulações ou regras dogmáticas». Actualmente, o que vemos acontecer em ciência consiste na sua especialização e fragmentação onde o que se ganha em conhecimento, perde-se em sabedoria. É por isso que Drummond chama a atenção para um
dos papéis do diálogo entre ciência e religião: «ver as coisas de perspectivas diferentes de um modo holístico e encorajar outros a fazê-lo também».
dos papéis do diálogo entre ciência e religião: «ver as coisas de perspectivas diferentes de um modo holístico e encorajar outros a fazê-lo também».
«O que une assombro e sabedoria?»
Resposta: prestar atenção!
Prestar atenção ao mundo natural levando-nos a uma experiência de assombro, do maravilhoso, de contemplação, é, por analogia, prestar atenção a Deus numa orante reflexão. A sabedoria é – no pensamento de Drummond – a reflexão sobre todas as experiências que fazemos, incluíndo as de assombro.
Por fim, neste curto artigo, Drummond salienta ainda que uma dimensão importante da sabedoria é a ética e a moral, onde o diálogo entre fé e ciência dá um valioso contributo.