Li recentemente um artigo onde um Pastor da Igreja Metodista agradece o facto da sua igreja patrocinar contraceptivos como forma de controlar o nascimento dos filhos, e assim realizar um planeamento familiar. Afirma ainda que chegou a altura de assumir isso como uma legítima parte da ética sexual Cristã.
Muito bem. Quero aqui afirmar que agradeço o facto da Igreja Católica apoiar os métodos sintotérmico, Billings, entre outros, também conhecidos como métodos naturais, como forma de me educar no auto-controlo dos impulsos sexuais e assim exercer uma parentalidade responsável.
Perdoem-me a dureza da minha opinião, mas a contracepção, por muito apelativa que seja para muitos, é um retrocesso civilizacional e fonte de lucro à custa da regressão da humanidade ao estado de pré-auto-consciência. Porquê? Quem controla o desejo sexual é um impulso sentimental ou a minha auto-consciência? Dotados de inteligência, somos capazes de nos auto-controlarmos, logo, inventar métodos (como os contraceptivos) é – dito de forma dura – um atentado à inteligência.
Pelo contrário, os métodos naturais são uma forma de auto-conhecimento recíproco do casal porque não basta à mulher conhecer os seus ritmos, mas também é importante que o homem os conheça para se auto-conhecer no conhecimento do outro. O auto-domínio do desejo sexual não é sinal de repressão psicológica, mas de uma grande inteligência emocional. Por outro lado, o facto de haver períodos férteis e não se pensar em ter mais um filho, implica o desenvolvimento criativo na forma de amar o outro, sobretudo nas mais pequenas coisas. Assim, realiza-se a expressão conhecida como “a espera aumenta o desejo”. Tal como um grande atleta só consegue ser o melhor dos melhores por uma grande disciplina em relação ao seu corpo, auto-domínio perfeito das suas capacidades, e se toma esteróides é posto fora da competição e vê arruinada a sua carreira, assim são os contraceptivos em relação à vida sexual de um casal. Mas assim como Armstrong vê a verdade desta mentira e deseja recomeçar (mesmo se alguns não acreditam que o fez), também um casal pode sempre recomeçar e serem grandes atletas do auto-domínio. Why not?
A tua tese é que “a contracepção é um retrocesso civilizacional”. Isto comete a falácia da generalização apressada, pelos seguintes motivos:
1) Nem todas as mulheres tem um ciclo de ovulação regular. Existem bastantes mulheres com um ciclo bastante inconstante, não sendo fácil prever com segurança os períodos férteis e inférteis. Assim, estas pessoas não conseguem, ou pelo menos é muito difícil, aplicar com sucesso os chamados métodos naturais. Logo, parece moralmente legítimo adoptar outro tipo de contracepção.
2) Os métodos chamados naturais delimita uma data para as relações sexuais, as quais podem perder o carácter espontâneo. O amor carnal é uma coisa boa e surge espontânea e naturalmente, e parece então irracional delimitá-lo apenas a um determinado período.
3) O maior auto-controlo é respeitar o outro como pessoa e não como um simples instrumento. Se existem duas pessoas que se amam e respeitam como pessoas totalmente, então qual é o mal de utilizar métodos contraceptivos? Pelo contrário, não sei até que ponto se ama uma pessoa quando a prioridade não é o outro nem o amor espontâneo que pode daí brotar, mas sim o respeito a métodos naturais.
4) Os chamados métodos naturais são na realidade não naturais, pois envolvem ciência, conhecimento e actividade humana para os aplicar devidamente. De qualquer forma, tanto os naturais como os não-naturais procuram evitar que nasça uma criança.
Em suma, acho que o teu problema está equivocado. O problema não são os métodos contraceptivos, mas sim que tipo de relação que se estabelece com o outro (ou de doação ou de objectualização). E pode haver amor verdadeiro mesmo utilizando contraceptivos. Por isso a tua tese não faz sentido.
@Anonymous
Resposta aos teus pontos:
1) o método sintotérmico implica uma monitorização sistemática, logo, independentemente do ciclo ser regular ou não, é aplicável. E assim como o sintotérmico, também o Billings, ou outros sinais, que em síntese constituem o método natural de regulação da fertilidade. O problema é que muitas pessoas (onde eventualmente te incluis) estão na idade da pedra em relação ao que sabem sobre os métodos naturais. Atualmente, até com uma App se consegue aplicar o método natural. Ou seja, o primeiro motivo pode ser resolvido com um simples “update”.
2) o que chamas de ato espontâneo, não o é, mas impulso do momento e falta de auto-domínio. É redondamente falso que o ato sexual com conhecimento de ser realizado em período infértil perde espontaneidade. O que é irracional não é expressar o amor sexual por alguém de uma forma diferente quando em período fértil, mas sim quando sou incapaz de viver a abstinência nesse período, dado ser uma pessoa dotada da capacidade de me auto-dominar. Quem não consegue auto-dominar-se, vive na prisão de ser controlado pelos seus próprios impulsos. Quem se auto-domina, vive livre porque escolhe a orientação a dar aos impulsos sexuais.
3) o mal de usar contraceptivos está, precisamente, em fazer do outro instrumento sem que me dê conta disso, o que é uma atitude de muito pouca inteligência (perdoa-me a dureza). Os métodos naturais, do teu ponto de vista, deveriam ser considerados como aqueles que mais orientam a nossa sexualidade em direção ao respeito do outro e dos seus ritmos. Implicam uma decisão recíproca sobre a forma de manifestarem o amor de um pelo outro. Implicam um conhecimento mais profundo do corpo do outro, dos seus desejos, anseios, e como juntos podemos encontrar a sintonia e o auto-domínio dos nossos corpos.
4) não sei porque razão tudo o que envolve ciência é não-natural. É um pressuposto discutível e que carece de justificação. O método “natural” pode e deve envolver ciência, porque a ciência é um meio de conhecer fazendo qualitativamente de cada membro do casal – por assim dizer – um cientista do seu corpo e do corpo do outro. Por oposição, usar um contraceptivo não envolve qualquer movimento em direção a um maior conhecimento do que quer que seja. Quase que se podia dizer que nos estupidifica em relação ao nosso corpo. Por fim, enquanto que o método contraceptivo pretende “evitar” efectivamente que uma criança nasça, o método natural, quando correctamente aplicada, não “evita” o que não pode sequer acontecer, logo, a tua última frase merece correção.
Com esta resposta espero ter esclarecido os teus equívocos. A minha tese não se pronuncia sobre o amor verdadeiro, pois esse não é exclusivamente de natureza genital.
Em suma, os métodos naturais são exigentes? Sim. Ponto.
Mas são motores de uma evolução cultural para uma madura inteligência emocional. Não é que seja “burro” quem os usa, mas sim, que ainda não descobriu a enorme potencialidade desses métodos numa relação matrimonial. Não há como experimentar amadurecer a nossa inteligência com uma pitada de auto-domínio 😉
[em vez do post anterior, considera este]
Acho que a tua tese é falsa, pelas seguintes razões:
Os métodos naturais são bastante falíveis, basta uma pessoa estar doente, ter febre, ou estar stressado para os resultados serem diferentes. Tu pareces pressupor que funcionam 100% em qualquer pessoa. Mas existem pessoas em que não se consegue aplicar tais métodos com a exactidão que estás a querer evidenciar. Logo, tais métodos não se podem generalizar a todas as pessoas. Eu não defendo que não se devem utilizar tais métodos, mas sim que é moralmente legítimo utilizar todos os outros.
O auto-domínio faz sentido para vícios. É conveniente para o bem da sociedade e das pessoas conseguirmos auto-domínio para não haver ódio, o egoísmo, a inveja, etc… Agora, será que o acto sexual é um vício ao ponto de ser preciso o tal auto-domínio? Não, se o sexo for realizado por pessoas que se respeitam mutuamente, então estamos perante algo maravilhoso. Numa relação de compromisso verdadeiro e fiel, o sexo é bom, o corpo é bom, o acto sexual é bom. Logo, não faz sentido auto-dominar algo que é bom.
O sexo realizado no período infértil perde alguma espontaneidade, pois estamos a marcar a data do sexo. Isso não faz sentido uma vez que a relação sexual é algo que brota espontaneamente em qualquer dia, em qualquer hora, sem uma data delimitada temporalmente.
“Quem não consegue auto-dominar-se, vive na prisão de ser controlado pelos seus próprios impulsos”. Esta proposição é falsa, pois existem pessoas que não querem auto-dominar uma coisa boa (como a acto sexual) e mesmo assim não estão determinados ao ponto de não conseguirem controlar isso. Auto-dominar vícios vale a pena, agora auto-dominar virtudes e coisas boas parece irracional.
Numa relação de amor, quando se usa métodos contraceptivos não se está a instrumentalizar o outro. Instrumentalizar ou tratar o outro como mero meio é um conceito da ética Kantiana que significa desrespeitar a autonomia da outra pessoa. Ora, se as duas pessoas que se amam decidem em liberdade e autonomamente tal acto, então não existe nenhuma instrumentalização. Do mesmo modo, se quiseres utilizar antes a ética utilitarista, então usar métodos contraceptivos também não é moralmente errado desde que promova a maior felicidade geral do casal. Logo, quer utilizando uma ética ou outra nunca será moralmente errado usar contraceptivos.
A finalidade dos métodos contraceptivos naturais ou não-naturais é a mesma: evitar o nascimento de uma criança. E se uma pessoa só faz sexo quando está no período infértil está a evitar claramente que não nasça uma criança. Vamos imaginar uma família numerosa em que é insustentável ter mais um filho… eles vão tentar evitar ter mais um recorrendo quer a métodos naturais ou não naturais.
Afirmas que:
1) O métodos naturais são bastante falíveis.
Tenho uma novidade para ti: não são efectivamente. Se aplicados corretamente possuem uma eficiência de 98 a 99%.
Ver:
– World Health Organisation: A Prospective Multricentre Trial of the Ovulation Method of Natural Family Planning I The Teaching Phase. Fertility and Sterility vol 36, N° 2, August 1981 pag 152-158.
– World Health Organisation: A Prospective Multricentre Trial of the Ovulation Method of Natural Family Planning II The Effectiveness Phase Fertility and Sterility vol 36, N° 5, November 1981 pag 591-598B.
– Xu JX, Yan JH, Fan DZ, Zhang DW. Billings natural family planning in Shanghai, China. Adv. Contracept. 10(3):195, 1994
– Indian Council of Medical Research: Field Trial of Billings Ovulation Metod of Natural Family Planning. Contraception 53: 69- 74, 1996
– Quian SZ et Al. Evaluation of the Effectiveness of a Natural Fertility Regulation Programme in China. J Pract Androl 2: 196-8, 1996.
– Quian SZ et Al. Effectiveness of a Natural Fertility Regulation Programme Reprod. Contracept 17: 188-90, 1997.
– Hilgers TW. Stanford J. Creighton Model NaProEducation Technology for avoiding pregnancy. Use effectiveness. J Reprod Med. 1998 Jun;43(6):495-502.
– European NFP Study Group: European multicenter study of natura family planning (1989-1995): efficacy and drop-out. Advances in contraception, 1999; 15: 69-83.
2) O auto-domínio faz sentido para vícios.
É um pressuposto que não partilho. O auto-domínio faz sentido para que seja verdadeiramente livre nas minhas decisões e não aprisionado a um sentimento do momento, impulso desregulado, etc. Em rigor, se nos educarmos no auto-domínio, beneficiamos autenticamente das virtudes associadas ao ato conjugal, também no seu aspeto lúdico. Não nos auto-dominamos por repressão dos desejos, mas por querermos orientá-los em direção ao que é melhor para o outro, e para a relação entre ambos.
3) O sexo realizado no período infértil perde alguma espontaneidade, pois estamos a marcar a data do sexo
É um pressuposto que não partilho. A espontaneidade no sexo está no momento em si, não na data. E a experiência dita que esse desejo não aparece a qualquer hora, ou dia, mas antes que pode ser mais gozado quando preparado. Passa a ser uma espontaneidade consciente do amor profundo nutrido pela outra pessoa, colocando-a antes de mim mesma.
4) existem pessoas que não querem auto-dominar uma coisa boa (como a acto sexual) e mesmo assim não estão determinados ao ponto de não conseguirem controlar isso.
Porque razão consideras o auto-domínio como necessário apenas para dominar coisas más? Lá está, mais um pressuposto que não partilho. Um atleta procura o auto-domínio do seu corpo para uma coisa boa, melhorar o seu desempenho numa prova. Mas isto está relacionado com o pressuposto 2).
5) quando se usa métodos contraceptivos não se está a instrumentalizar o outro
Um dos resultados da contracepção é uma tendência a concentrar o ato conjugal no prazer próprio («a relação sexual é algo que brota espontaneamente em qualquer dia, em qualquer hora», nada garante que isto acontece simultaneamente nos dois), em vez de o concentrar na pessoa com quem o partilhamos. Se o prazer é o critério principal de decisão (hedonismo), e que o outro é a sua fonte através do sexo, faz-se desse prazer o fim do ato conjugal, de tal modo que o outro passa a se aquele que me garante essa gratificação. Aí passa a pessoa a ser o meio para atingir o fim (sexo), resultando na tendencial instrumentalização que referi. Paulo VI expressa-o de uma forma interessante «um outro efeito que serve de causa para alarme é que um homem que cresce acostumado a usar os métodos contraceptivos pode esquecer a reverência devida a uma mulher, e, não fazendo caso do seu equilíbrio físico e emocional, reduz a mulher a mero instrumento para a satisfação dos seus próprios desejos, não mais considerando-a como sua parceira, a qual ele deve rodear de carinho e afeto» (HV 17, tradução que fiz do inglês). Pode esta mesma tendência verificar-se nos métodos naturais? Penso que não porque ao ajustar os nossos desejos aos ritmos, estados emocionais e físicos de cada um, implica sempre mútuo acordo, algo feito necessariamente a dois, concentrando qualquer ato em prol do sexo na pessoa e relação recíproca entre pessoas.
6) A finalidade dos métodos contraceptivos naturais ou não-naturais é a mesma: evitar o nascimento de uma criança.
Se assim fosse, porque razão tantos utilizam os método naturais para garantir o nascimento de uma criança?
E ainda, porque razão os casais que usaram métodos contraceptivos (sobretudo a pílula) têm mais dificuldade em ter filhos quando querem?
Creio que confundes “evitar um filho” (como se um filho fosse um mal na vida, que certamente não é a ideia que tens em mente), que é o princípio base dos métodos contraceptivos, com uma “maternidade e paternidade responsáveis”, onde um filho é uma escolha do casal, pois – digo mais uma vez – não podemos “evitar” o que não é possível de acontecer “in the first place”.
Pareces defender que é obrigatório moralmente todos os casais usarem métodos naturais. Isto é um absurdo. Basta pensar que nem todos os casais conseguem aplicar correctamente os métodos naturais e outros que mesmo que os apliquem correctamente serão bastante falíveis (devido à constituição biológica de algumas mulheres e a outros factores ambientais como stress ou doenças).
O sexo é uma actividade maravilhosa, e se for orientada para o respeito pelo outro, não precisa de ser dominada. Tal como todas as coisas que são boas não precisam de ser dominadas. O que precisa de ser dominado são as coisas más ou que levam ao que é moralmente errado.
Dizes que “a espontaneidade no sexo está no momento em si, não na data”. O problema é que com os métodos naturais tu estás a datar o momento do sexo (só pode ser naquele período). Portanto, nos métodos naturais estás a castrar a espontaneidade a uma data. Além disso, o desejo de entrega total ao outro, que é algo natural, pode surgir em qualquer dia e em qualquer hora; não seria então absurdo castrar esta espontaneidade boa e natural só para respeitar uma data? Numa hierarquia o que está primeiro: os métodos naturais ou antes a dádiva de amor espontânea ao outro? Se colacas os métodos naturais em primeiro lugar (como defende a tua tese), então isso não é verdadeiro amor, pois é uma amor que vive apenas em função do respeito a uma data, a um período, que deve ser rigorosamente preservado.
Defendes que “Um dos resultados da contracepção é uma tendência a concentrar o ato conjugal no prazer próprio”. Mas isto é uma grande falácia, pois pelo facto de eu usar contracepção não significa de forma alguma que concentre o acto conjugal no meu egoísmo. Por isso, usar contracepção não implica instrumentalizar o outro. Só existe instrumentalização se não se respeitar a autonomia do outro. Mas pode-se fazer uma conjunção entre usar contracepção e respeitar a autonomia do outro sem problemas.
De qualquer forma, as grandes teorias éticas (ética das virtudes de Aristóteles, deontologia de Kant e utilitarismo de Mill) não condenam o uso da contracepção artificial. Por isso não é plausível defender que é moralmente errado usar contracepção.
Os métodos naturais, quanto à finalidade, podem ser usados como os artificiais: para evitar ter filhos. Uma pessoa evita ter filhos quando foge do sexo nos períodos fecundos, tal como uma pessoa evita ser morta ao fugir de um campo de guerra.
PS – Eu respeito quem livremente quer usar métodos naturais. Espero que também respeites quem livremente queira usar métodos artificiais, pois do ponto de vista moral estes não são errados.
@Anonymous
É moralmente saudável que os casais usem os métodos naturais, mas antes ainda disso, é “relacionalmente” saudável porque levam a um crescimento a dois que os métodos contraceptivos não permite conceptualmente. Daí que optar pelos métodos naturais seja uma atitude inteligente em prol daquilo que fortalece o relacionamento de um casal. Está comprovadíssimo que a sua fiabilidade é muito elevada se aplicados correctamente e que as fontes de falibilidade que apontas são resolvidas precisamente com o auto-domínio, do qual tens uma visão repressiva, o que é errado.
Em relação ao sexo, temos visões diferentes. Eu penso que o sexo deve ser dominado pela pessoa, e não a pessoa dominada pelo sexo. A falácia da tua argumentação está em pensar que dominar o sexo é reprimi-lo. Errado. Uma pessoa pode dominar uma BTT, pois, andar de BTT não é uma coisa má, e ser admirada por isso. O sexo auto-dominado porque coloca o outro à frente de qualquer gratificação pessoal é também fonte de admiração. Porque razão dominamos apenas coisas más? É um pressuposto que não tem qualquer sentido.
Os métodos naturais não tiram espontaneidade. Só afirma quem não os pratica e acha que só com contraceptivos é que consegue ser espontâneo na sua vida sexual. Francamente …
Porque razão o desejo de entrega total ao outro envolve sempre fazer sexo? Se é total envolve a sexualidade da pessoa no seu todo, não se restringindo à genitalidade da mesma.
O contraponto entre métodos naturais e dádiva de amor ao outro não tem qualquer lógica, racionalidade ou sentido. Porquê? Porque os métodos naturais assentam numa dádiva de amor ao outro que ultrapassam as barreiras do Eu e da gratificação pessoal satisfeita apenas através de sexo a qualquer hora e dia. Aprisionado pelos desejos só mesmo uma contracepção pode resolver, mas é uma ilusão, porque nos mantemos aprisionados pelo desejo, quando esse pode ser orientado, nutrido e será sempre mais satisfeito quando desenvolvido não somente pela emoção, como também pela inteligência emocional.
Quanto à instrumentalização eu diria duas coisas. Primeira, falei em tendência. Segundo, o que dizes é o discurso que esperaria de uma pessoa que tem em si toda a potencialidade de desenvolver a sua relação de casal pelos métodos naturais. Porque não?
O facto daquilo que chamas de grandes teorias éticas não condenarem o uso de contraceptivos, não se absolutiza no seu valor moral, por escamotearem, sim, um valor moral mais evoluído. Por fim, quanto à finalidade, mantenho a incompreensão de como posso afirmar que os métodos naturais evitam o que não está para acontecer.
Eu respeito as pessoas, independentemente das opções que fazem, mas não posso deixar de lhes dizer que podem “ser” muito mais e melhores quando optarem por algo moralmente mais avançado. Se tens em ti a potencialidade de impulsionar a sexualidade a um nível extraordinário de liberdade consciente porque auto-dominada por uma inteligência emocional mais evoluída, porque não experimentar?