Segundo o meu amigo ateu Ludwig Kripphal, comentando um artigo que escrevi, se Deus está connosco nos momentos de maior sofrimento significa que “A fasquia para a excelência de Deus parece estar cada vez mais baixa. Ninguém diria ser um bom médico aquele que, podendo curar a criança, ficava em vez disso a sofrer com ela enquanto a deixava morrer.
Depois, se no íntimo nos dirigimos a Deus, sobretudo nos momentos de maior aflição, não passa de uma fase importante que se vive em criança, mas crescendo, aprendemos que a realidade é outra. O próprio Ludwig conclui que diante desses momentos realmente, pode parecer estranho tanta gente se dirigir a Deus quando o efeito é nulo.
De facto, esta é a opinião de um ateu que respeito muito, mas creio ser a opinião de muitos ateus. Será que a fasquia de Deus é realmente cada vez mais baixa? Deus, um sádico que adora contemplar o nosso sofrimento e morte sem nada fazer? Ou mesmo, um Deus inútil? Um Deus que diante da eminente tragédia nada pode realmente fazer como demonstram os acidentes de aviação ou desastres naturais?
Questionar a visão de Deus
Sinceramente, o que questiono é a visão de Deus que alguns ateus têm e que compreendo terem. Quem não duvida da inexistência de Deus tem de colocar algum ideal no Seu lugar e o único disponível é o ser humano. Daí que a experiência de um Deus connosco passa a ser o desejo de que uma super-pessoa esteja visivelmente connosco, um super-homem. Ou uma acção útil, só o é, se entendida como uma demonstração de poder extraordinária que desafie as nossas noções de realidade (como o super-homem).
Em vez disso, como se manifestou Deus a nós? Vejam bem.
Fez-Se um de nós.
Viveu como nós.
Morreu como nós.
Depois, que acções úteis fez? Curou os cegos, libertou muito dos males interiores, elevou a dignidade da mulher, inspirou milhões a viver de um modo simples, fraterno e informado pelo amor como dom-total-de-si-mesmo. Que raio de demonstração de poder é esta? Manipulação de massas?
O desafio vem do questionar
Bom, não será esta visão ateísta curta? Wishful thinking porque, na realidade, Deus parece-lhes demasiado distante para ser credível? Que noção de Deus estamos realmente a falar? Recordo algumas expressões de Tomáš Halík no livro publicado com Anselm Grün, “O abandono de Deus” que recomendo a leitura a todos os crentes e ateus.
”tanto os descrentes altaneiros, como os crentes autoconvencidos, não buscam Deus. (…) O louco de Nietzsche não veio para refutar a fé em Deus e anunciar o ateísmo, mas traz, antes consigo, um diagnóstico do ateísmo.
(…) [A] fé não é uma ideologia, mas um caminho e, decerto, um caminho que nunca acaba. Começar a crer não significa poder apoiar-se em pilares de certezas, mas entrar numa nuvem do mistério e aceitar o desafio: mergulha fundo!”
O desafio é grande e por essa razão compreendo que nem todos estejam dispostos a aceitá-lo. Talvez a fasquia de Deus não seja baixa, mas desafia radicalmente a noção que temos de nós mesmos e do mundo. E talvez a acção de Deus pareça inútil, mas somente para desafiar permanentemente onde colocamos, na nossa vida, as noções de utilidade.