Eu penso que podemos inspirar a nossa vida através dos fenómenos físicos, a um nível que está para além daquilo que explicam. Será isso concordismo?
Num contributo recente para um blog novo que explora as manifestações de relacionalidade no nosso universo – Wonderverse – procurei perceber o que podemos aprender com fenómenos físicos, aparentemente desprovidos de qualquer sentido e significado profundos, como o impacto de gotas em superfícies.
Recebi comentários positivos dos meus colegas que fazem parte do grupo que dinamiza o Wonderverse, mas outros que sentiram estar a fazer umconcordismo.
Concordismo: o que é?
Concordismo é uma das atitudes que podemos ter quando ciência e fé interagem. Diz o teólogo John Haught que se trata de um confluir de visões em que,
”em vez de rejeitar logo a ciência, o concordismo força a correspondência do texto bíblico, pelo menos de um modo solto, com os contornos da cosmologia moderna. (…) A religião, nesta interpretação, deve parecer científica a todo o custo para ser, hoje, respeitada intelectualemente.”
No meu texto não faço isso. Porque terá, então, gerado alguma reacção?
No texto faço uma analogia entre o que acontece a uma gota quando incide numa superfície mediante a sua energia de impacto, e aquilo que acontece com o esforço que colocamos naquilo que fazemos. Ou seja, um paralelo entre nós no acto de dom de nós mesmos e as gotas. Não um concordismo porque nem sequer refiro muito a questão religiosa.
Impulso à acção inspirado pela natureza
A contemplação da natureza pode inspirar-nos nos exames de consciência que deveríamos fazer regularmente. Há sempre uma diferença entre o que somos e o que somos chamados a ser. Sem um exame de consciência, a distância entre os dois aumenta e, um dia, podemos viver apenas da desilusão dos nossos sonhos. Ninguém deseja isso.
Ainda que seja sempre possível recomeçar, creio que qualquer fenómeno físico, quando olhado contemplativamente, pode ser uma fonte de inspiração para agir e dar passos concretos na nossa vida que produzam experiências transformativas.
São imagens simples que nos ajudam a pensar e nos impulsionam a tomar uma atitude. Se não me revejo nessas imagens posso partilhar porquê. Se me revejo posso partilhar o efeito que tiveram em mim. E mesmo se nada partilhar, basta que a minha perspectiva tenha mudado 1%. A partir daí, quem sabe o que poderá suceder-se…