Recentemente li uma frase num artigo de opinião no New York Times que fala na confiança na ciência por oposição à confiança em Deus — «Não confies na ciência em vez de confiares em Deus, confia na ciência como dom de Deus.» É isto.
Como investigador em ciência faz-me muita confusão esta oposição. O ser humano é um explorador do conhecimento. Somos tanto exploradores do cosmos como da interioridade onde Deus se manifesta, sobretudo através dos relacionamentos. Deus é o Grande Mistério que nos convida a explorar ambos os mundos para encontrarmos o sentido mais elevado de cada coisa. Quando o encontramos, relativizam-se os interesses pessoais que muitas vezes nos afastam daquilo que significa ser-se humano.
Durante o período inicial da pandemia vi muitos crentes a desconfiar dos desenvolvimentos científicos sem grande conhecimento de causa (ultracrepidarianismo), citando outros cientistas fora de contexto, ou sobrevalorizando a sua opinião por entrar dentro da bolha da sua versão do dilema moral. Mas, e se o dilema não existe?
Confiar na ciência confunde-se muitas vezes com considerar o conhecimento científico como verdade absoluta. Ora, quando essa “verdade” parece colidir com a nossa fé, desconfia-se da ciência. Mas isso desvirtua a própria ciência que progride através das questões. Logo, em ciência — por definição — não há conhecimento definitivo. Uma teoria pretende ser sempre a melhor aproximação da forma de descrever e compreender a realidade, não uma “verdade absoluta” sobre a realidade. Por isso, “confiar na ciência como dom de Deus” é confiar na inteligência que Ele deu às pessoas que a fazem e colaboram, consciente ou inconscientemente, com os desígnios de Deus.
Onde a ciência pode melhorar é no modo de comunicar a experiência que faz na exploração fascinante pelo mundo do conhecimento. Pois, no mundo imerso em informação, os comunicadores mais aptos sobrevivem, assim como as suas ideias. Mas isso é tema para uma próxima reflexão.
Muito interessante Miguel, que abordes esta questão . Na verdade tenho muitas questões em relação aos novax exatamente porque se omitem opiniões / estudos que até parecem ter lógica e ser comprovados põe experiências de técnicos fidedignos é que eu gostaria de ver a confronto , ou eu mesma de confrontar , e não vejo em nenhum lado disponibilidade. O facto de esconder ou não aprofundar informação publicamente não me dá credibilidade em nenhum dos lados. Não seria útil trazer ao confronto público tais argumentos com cientistas de ambas as opiniões ?
É sempre importante fazer um contraponto, mas existem situações como as pandemias que comprometem a nossa vida no dia-a-dia e, por isso, importa primeiro tratar da ferida para a estancar, de que focarmos a discussão entre as posições que defendem que a devemos tratar com um penso e cicatrizante, e as posições que acham que devemos deixar a ferida ao ar para que o corpo cicatrize naturalmente. E enquanto se discutem as posições (em nome do aumento de “views”), existem pessoas a sofrer quando esse sofrimento poderia ser evitado. O consenso científico em matéria de pandemia é amplo pelo que tenho acompanhado em revistas equilibradas entre a especialidade e a comunicação em ciência (como a Science). O que gera dúvidas é esta competição por mais “views” que usa o contraponto para o subverter e incutir dúvida na falta de consenso científico quando essa existe. Agora, em ciência, existem sempre vozes dissonantes, mas só indo a fundo é que se percebe que a dissonância não está na substância, mas nas diferenças entre as escolas de pensamento científico que fazem parte da dinâmica do progresso em ciência. O que está a acontecer é semelhante a haver escolas de pintura que dão valor aos pincéis e outras que defendem o uso de outras ferramentas (que não pincéis) para fazer pinturas “realmente” criativas. Ora, a criatividade não depende das ferramentas, mas do pintor. Do mesmo modo, combater esta pandemia com a vacina não depende das opiniões que os cientistas têm, mas na necessidade de diminuir o sofrimento das pessoas e cuidar da sua saúde.
Claro , mas isso não deveria ser tratado em público ? Porque um dos virólogos ( ao menos assim o apresentaram na conferência ) que ouvi até me fez sentido ( dizia que durante as pandemias a pior coisa a fazer era vacinar pois o vírus estando ativo cria sempre novas mutações fortificando-se cada vez mais e estamos a criar um monstro que será incontrolável , a mo das bactérias multi resistentes. Outro fator é que haviam tratamentos que curavam em pouco tempo a doença grave com resultados comprovados pelo médico especialista e foram escondidos , como o plasma dos infetados…
Eu não percebo nada nem consigo estar atrás , mas o que está a convencer as pessoas é esconder este tipo de informação dada por pessoas credíveis e não o trazer á discussão em público . Poder-se-iam ilucidar as pessoas… não será também uma estratégia de lucros brutais das farmacêuticas ? Por exemplo, quando me fui vacinar reparei nas paredes forradas com enormes cartazes impressos … ora eu estou a par do preço do m2 das impressões a cores. Imagino quanto terá custado ao estado forrar os centros do país inteiro… Não valeria então a pena poupar esse dinheiro para mandar vacinas para os países que não têm ? Não estará a propaganda a esconder alguma manobra ?
Mas tens razão ao dizer que todos têm algo a dizer em relação a tudo… eu própria na arte reparo que qualquer pessoa pode opinar sobre arte mesmo sem ter as mínimas noções técnicas ou qualquer estudo, e acha que a arte dos autores licenciados é só uma opinião , não é a deles . E nesse sentido até se dão ao luxo de deitar fora obras de autor para substituírem pelas suas ideias.. e até conscientes que estão a violão direito de autor…
Por isso falo da importância de esclarecer o público
Uma pesquisa simples levou-me a um artigo da Nature (https://www.nature.com/articles/s41591-021-01488-2), uma revista científica de reputação inquestionável, onde se publicou um estudo a avaliar a validade do plasma convalescente no tratamento da Covid. Resultado: inconclusivo e, em alguns casos, até pode piorar. A vacina trava substancialmente a propagação do vírus e o risco de haver mutações. E todos os que são contra a vacina, também pouco ou nada fazem para que realizar uma campanha, por exemplo, em que doam a sua dose para os países com menos recursos. De qualquer modo, existem esforços para que a vacina chegue a todos (https://www.unicef.org/immunization/vaccines-for-all). Eu não me preocuparia com os cartazes grandes e a ideia das farmacêuticas estarem a ganhar rios de dinheiro com esta situação leva-nos a um certo ultracrepidarianismo (https://www.imissio.net/artigos/49/4512/ultracrepidario/) porque essas empresas também gastam rios de dinheiro para nos oferecer uma solução. As pessoas não têm qualquer problema em andar pelas redes sociais e deixar que a sua atenção seja consumida, assegurando que empresas como o Facebook ganhem biliões à custa disso, mas quando de trata de empresas que se esforçam por oferecer soluções que cuidam da nossa saúde, achamos que ganham dinheiro a mais. Estas assimetrias culturais e de visão é que me perturbam um pouco.
E não seria então o caso de propor a um programa de tv ( tipo: Prós e Contras ) de esclarecer a população ?
Se os novax acreditam que a vacina faz mal não creio que vão dar dinheiro para que outros a tomem…
Eu vou escrever ao Programa a propor