O melhor efeito que a Cimeira de Copenhaga poderia ter ao nível global seria se dali saísse um sinal. Um sinal claro de que a solução para a crise ecológica que nos toca a todos depende da capacidade de sermos-como-comunhão. Nesse sentido fiquei um pouco surpreso ao verificar que dos quatro pontos essenciais da cimeira, apenas dois assuntos estão na mesa: i) emissões de gases com efeito de estufa e ii) dinheiro.
Eu compreendo que não se negociem a opção pelos mais pobres, ou estilos de vida mais moderados, ou um maior fortalecimento da relação entre a pessoa humana e o meio ambiente, mas não seriam estes alguns exemplos do que se espera como “essencial” desta cimeira?
Por outro lado, dos quatro pontos essenciais, três referem-se ao controlo das emissões. Contudo, num artigo publicado recentemente na revista Science, muitos aerossóis arrefecem a atmosfera (forçamento climático negativo), enquanto que aerossóis como o ozono ou partículas de carvão possuem um efeito de aquecimento (forçamento climático positivo), tal que o controlo da poluição atmosférica partilha o mesmo enquadramento que as alterações climáticas. Ou seja, ao controlarmos as emissões de poluentes estaremos a induzir maiores alterações climatéricas! Quer isto dizer que tudo se joga no maior ou menor conhecimento que temos da interacção entre as emissões de gases de efeito de estufa e o clima. Por isso, pergunto: estaremos a assentar o essencial de Copenhaga em algo que ainda não conhecemos inteiramente? Se assim for, como poderemos estar certos que as medidas assinadas serão as mais correctas?
Fica a sensação de falta de uma visão ecológica para a resolução desta crise. E parece-me redutor centrar as atenções sobre o que a delegação do Estados Unidos irá fazer. É verdade que são necessários investimentos no sector energético, mas não serão necessários maiores investimentos nas pessoas e no relacionamento que têm com o ambiente? Fica a impressão do protagonismo das emissões e do dinheiro, quando as pessoas e o ambiente são os verdadeiros protagonistas e a solução da crise está no fortalecimento da comunhão entre a dignidade das primeiras e a integridade do segundo.
“O essencial é invisível aos olhos” dizia Saint-Exupéry no seu “O Principezinho”. O nosso quotidiano é invisível aos olhos nas nações, mesmo se as constituem. Por isso resta-nos fazer a nossa parte: dar vida a uma Ecologia de Comunhão.