Corpo de Deus

Hoje celebra-se a festa do “Corpo de Deus.” Sim, Deus assumiu um corpo material como qualquer um de nós em Jesus. Pode ser que esta experiência esteja tão longínqua que fiquemos a pensar se alguma vez isso aconteceu ou não. Ou ainda, o que representa isso para nós, hoje? Ou ainda, em que é que o corpo de Deus transforma a minha vida?

Corpo de Deus transforma

Pelo que tenho observado ultimamente, parece-me ver muitas pessoas anestesiadas em torno dos conteúdos que consomem através de um pequeno écran. Não duvido da utilidade dos smartphones, mas quando vejo um pai que caminha com o filho a olhar para o seu écran, e o filho que olha para o pai, além de fazer um exame de consciência, pergunto-me se o pai tem noção de estar anestesiado.

O corpo de Deus não se consome, mas consome-nos.

Não nos anestesia, mas reanima o sentido e significado da nossa vida.

Não se transforma em nós, mas transformamo-nos nele.

Porém, como pode ser assim, se a experiência parece ser exactamente o contrário?

Percepção

O modo como interpretamos a realidade à nossa volta possui muitas camadas. Como uma cebola. Camadas distintas, mas unidas e só unidas percebemos o que é uma cebola.

Por outro lado, o modo como percepcionamos a realidade à nossa volta possui também muitas camadas. E mediante a nossa experiência de vida, percepcionamos a realidade de modo diferente, sendo algo que varia de pessoa para pessoa.

O corpo de Deus é uma realidade que está a um certo nível de interpretação e percepção. E a forma que encontrei de a perceber melhor foi através da experiência da sua percepção.

Experiência perceptiva

Consumir o corpo de Deus através da Eucaristia é escolher ser cristificado. Isso significa que, do mesmo modo como Deus santifica a matéria ao corporificar-Se, eu escolho que Deus santifique a matéria que compõe o meu corpo com o Seu para me “transformar” – por assim dizer – n’Ele.

Transformar a minha coerência de vida, o modo de estar com os outros, o meu falar, o meu agir, o meu pensar. Não é uma transformação mágica, mas antes uma experiência transformativa que radicaliza o meu pensar, sentir e agir no amor.

Por vezes tendemos a centrar o que real e válido naquilo que materialmente acontece na nossa vida. Mas um pensamento não é material e acontece milhares de milhões de vezes ao longo do dia. Um sentimento não é material, mas todo o corpo reage a esse sentimento. O corpo de Deus é mais do que um pensamento e sentimento. É matéria que santifica os pensamentos e sentimentos. É uma experiência perceptiva que dá perspectiva.