”O ateísmo, a dúvida e o cepticismo entretecem o quotidiano da nossa vida. Também o crente faz a experiência do abandono de Deus. Se nos encontramos nesta situação, como podemos sair dela? Não será que a pessoa que vive na dúvida faz o caminho da busca autêntica de Deus? Uma boa dose de dúvida, por vezes, de descrença, é de grande importância par se chegar a uma espiritualidade adulta, alcançada na luta contra as tentações do impasse emocional e do fundamentalismo.”
É este uma parte do texto da contra-capa do livro ”O abandono de Deus – Quando a crença e a descrença se abraçam” de Tomáš Halík e Anselm Grün editado pelas Paulinas.
O prefácio do meu colega Carlos Fiolhais é brilhante e o livro promete, pelo que, apesar de não o ter lido ainda na íntegra, não tenho dúvidas ao recomendar a sua leitura. Não depende de seres crente ou descrente.
Por outro lado, o livro faz-me lembrar algo que escrevi para o texto editado “Deus na Universidade – O Que Pensam os Universitários Portugueses Sobre Deus?” ao afirmar o ateu como a minha prova da existência de Deus. Eu acredito num Deus que nos faz livres. Se não houve quem o recusasse, a minha fé entraria em crise.
Nos diálogos que procurei – nas minhas limitações – desenvolver com ateus deparei-me frequentemente com afirmações peremptórias em relação aos crentes e a Deus que deixaram perplexo. Pensava – ”sabem tanto de Quem sei tão pouco…”, logo, o curioso foi sentir a necessidade de incutir a dúvida por haver tantas certezas.
Incutir a dúvida foi o confirmar daquilo que tinha ouvido falar de um filósofo italiano Massimo Cacciari sobre o que une crentes e não-crentes… a dúvida. Esse é o ponto de partido e creio ser também o ponto de chegada.
Existem 3 razões para não temer a crença ou a descrença.
Juntos
A Verdade(Deus) é e será sempre um mistério insondável, mas também inesgotável na fonte de ideias, experiências e estímulo a encetar num procura conjunta.
Mais e melhor
A nossa visão do mundo corre o risco de ficar limitada se não nos abrimos à diferença de vida e experiência do outro. Há um riqueza imensa na diferença de convicções. Juntos podemos aprofundar mais e melhor a experiência de cada um.
Preparados
Nada nos prepara para a ignorância porque essa é uma constante da nossa vida. Por isso, diante de momentos de luz podemos fazer uma experiência única de sentido e significado que abre este “grão de poeira cósmica” que somos à imensidão do Universo e, nesse momento, demonstrarmos uma sabedoria tão imensa quanto esse. Só aí estaremos preparados para acolher o inesperado quando esse se manifestar.
Crença … descrença … incomodam-te?
Juntos. Mais e melhor profundidade de experiência de vida espiritual. Preparados para a surpresa. Só assim podemos vislumbrar o “abandono de Deus” como o silêncio desconfortante e impulsionador da descoberta do Universo como a descoberta de nós próprios, e do nosso lugar nele.
Questão: a fé de alguém, ou a ausência dela, incomoda-te?
Caro Miguel,
li o teu artigo e achei-o muito interessante.
Mas, no parágrafo com o subtítulo “Preparados”, parecem faltar palavras chave para dar sentido à afirmação.
Tens toda a razão! Já alterei o texto para lhe dar sentido. Obrigado!