Para uma pessoa que acredita naquilo que a ciência afirma, o conhecimento desenvolve-se por incrementos. Ou seja, explicar um pouco melhor um certo fenómeno significa progredir no conhecimento. Há quem exija o mesmo aos que acreditam em Deus. Pedem o impossível. Mas dessa impossibilidade surgiu uma ideia: o criadorista.
O conhecimento científico é pessoal
Se um estudante quisesse fazer doutoramento no tempo de Einstein em cosmologia tinha duas portas. A que investia na teoria de Einstein onde o universo possui início. E a de Friedmann onde o universo não possui início. Ambas as teorias eram válidas perante os dados existentes na época. Por onde entraria este candidato?
Se fosse ateu, muito provavelmente pela porta de Friedmann. Mas se fosse cristão, muito provavelmente entraria pela porta de Einstein.
A argumento é simples.
Não podemos dissociar a ciência daquele que a faz. A ciência é pessoal. O conhecimento desenvolvido em ciência provém de uma pessoa. Logo, se a fé possui um papel fundamental na pessoa, de certo modo, possui um papel fundamental em ciência.
Pensemos no exemplo do Design Inteligente. Pelo facto das pessoas acreditarem num Deus intervencionista, começaram a desenvolver conhecimento científico impulsionado por essa experiência religiosa.
Muitos teólogos argumentam que esta vertente criacionista é mais problemática para a teologia, do que para a ciência. Pois, ao fazer uma interpretação intervencionista da acção de Deus, perde-se a profundidade associada a essa mesma acção.
A percepção de que Deus age no íntimo, insondável de cada relacionamento neste mundo está muito para além daquilo que é material. A profundidade da acção de Deus só se atinge no infinito, que é o mesmo que dizer: nunca será atingida. Só uma acção não-intervencionista é compatível com essa visão de profundidade.
A fé não progride, aprofunda
Não dizemos que a fé se desenvolve, ou que progredimos na fé. A fé aprofunda-se. Embora a ciência possa ter um papel fundamental no aprofundamento da fé, não é essencial. Do mesmo modo, embora a fé possa ter um papel fundamental no desenvolvimento da ciência, não é essencial.
“Criadorista”?
Quem incompatibiliza a ciência com a fé, e se enquadra no tipo de pessoas que vivem nesse conflito, só podia ser ateu ou criacionista. Mas eu penso que a maior parte das pessoas é agnóstica ou “criadorista”. Isto é, mantêm-se a mente aberta. Bem dizer “não sei” e o valor que isso tem. E no caso daqueles que possuem uma experiência religiosa da fé, mais do que centrarem a sua convicção na “criação” (como no caso dos criacionistas), centram a sua convicção no “criador”, daí ter apelidado de “criadorista”.
Os “criadoristas” acolhendo o conhecimento científico vêem na evolução do mundo a acção não-intervencionista de Deus. Aquela que não progride, mas aprofunda-se infinitamente, e de onde brota uma novidade perene que permite dizer… a história não acabou. Juntamente com o agnóstico, o criadorista sabe o valor de um “não sei”. Uma expressão que mantém a sua mente aberta ao que Deus lhe quer dizer através de tudo o que existe no universo perceptível aos sentidos e à consciência.
Questão: se és crente consideras-te “criacionista” ou “criadorista”? Faz sentido esta expressão, “criadorista”?
Obrigado, Miguel, pelo artigo.
Estou interessado em publicá-lo no meu jornal “Presente Leiria-Fátima”, na página de opinião.
E eventualmente outros artigos se me quiseres enviar por email
Concordas?
Abraço.
P. Jorge Guarda