Ontem, dia 22 de abril, celebrou-se por todo o mundo o Dia da Terra. Celebraste? Sabias? Ou conseguiste ainda dar conta disso através de um noticiário? Apenas no site da Agência Ecclesia vi mencionada uma iniciativa dos escuteiros, e na TSF só mesmo fazendo uma pesquisa, resultando numa pequena notícia que aponta para outra mais desenvolvida no site motor24.pt. Não é que não se dê importância, mas podia-se ter vivido melhor esta proposta que acontece desde 1970. Porém, eu acrescentaria qualquer coisa…
Teilhard de Chardin, padre Jesuíta e paleontólogo, escreveu
”Porque, meu Deus, apesar de me faltar a alma-zelo e a sublime integridade dos teus santos, recebi de Ti uma incomensurável simpatia por tudo o que se agita no interior da massa escura da matéria; porque, conheço-me como sendo irremediavelmente menos criança do céu e filho da terra.”
Celebramos o Dia da Terra porque somos, de facto, filhos da Terra.
O que pode acontecer se não tomarmos maior consciência da consequência dos nossos actos em relação ao planeta não é tanto a sua destruição, mas a nossa e da vida que deixa de ter condições para existir. Recordou o astrofísico Neil DeGrasse Tyson – e bem – ”o grito perene a ‘Salvar a Terra’ é estranho. O planeta Terra sobrevive a colisões de asteróides massivos – sobreviverá a tudo o que lhe atirarmos em cima. Mas a Vida na Terra é que não.”
Mas, sendo filhos da Terra, quantas vezes não voltamos o nosso olhar para o céu. Para contemplar o astros, estudá-los e não só…
Olhar para o céu como acto orante ou gesto dirigido a Deus sempre entendi como uma busca pelo sentido elevado das coisas, mas não deixa de ser interessante que Deus encarnou no seio de Maria, e mantém-se presente entre nós através da Eucaristia. É como se o Céu se manifestasse, essencialmente, na Terra e através da Terra, para nos dar a conhecer que não somos apenas filhos da Terra, mas também filhos desse Céu.
Penso que as duas coisas estão estritamente ligadas e parece-me rico acolher esta vivência do Dia da Terra, como dia do Céu também. Isso deveria dar-nos uma dimensão diferente do intuito ecológico desta iniciativa.
Este ano, o gesto concreto foi o que demonstrar o cuidado pelo planeta terminando com a poluição do plástico. É importante recolher o plástico como gesto concreto de amor e respeito pelo planeta que é a nossa casa. Mas sendo o planeta o lugar onde fazemos uma experiência particular da presença de Deus, quem recolhe o plástico, está também a cuidar do santuário que o planeta é – ou devia ser – para nós.
Sabemos que passear pela natureza pode restaurar a nossa atenção, mas se o fizermos com um sentido de oração, isto é, de diálogo com Deus através de um gesto concreto de contemplação, então, podemos fazer uma experiência de Céu aqui na Terra.
Fica a sugestão: talvez o Dia da Terra pudesse ser do Céu também.
Desafio: levanta-te do vício de estar sentado, rodeia-te de natureza, olha, respira, escuta, toca e vive um momento de pausa. Quem sabe o Deus pode dizer-te…