Numa troca de comentários recente com o não-crente Ludwig Krippahl num post sobre a bondade de Deus, foram-me dirigidas as seguintes expressões sobre o diálogo:
«Relembro que, para um diálogo ser produtivo, temos de tentar encontrar razões que o outro aceite.»
«Se queres um diálogo racional tens de assumir a responsabilidade de tentar encontrar uma razão que eu possa aceitar.»
«…se queres apontar razões, tens de procurar as que são aceitáveis pelo teu interlocutor como tal. É essa a característica que separa o diálogo do monólogo ou da pregação.»
De facto, o que une crentes e não-crentes é a busca pela verdade, e para manter um diálogo importa, como diz Ludwig, encontra pontos comuns ou “razões que o outro aceite”. A questão que coloco é: qual o significado do diálogo quando divergimos em pontos fundamentais? Será que devo assentar o diálogo apenas em razões que o outro possa aceitar? Dependerá o diálogo da aceitabilidade do outro relativamente aos meus argumentos?
Eu penso que o diálogo é um pouco mais do que aceitação de razões de ambas as partes, caso contrário, será sempre muito difícil dialogar com quem pensa de maneira muito diversa de mim, exemplo, “eu acredito em Deus” e “eu não acredito em Deus”. Para além de pontos de unidade, o diálogo a ocorrer na desunidade do fundamental, implica uma abertura genuína ao outro. Abertura significa que sou capaz, por um momento, de abdicar das minhas ideias e do que penso para acolher livremente as ideias e pensamentos do outro. Abertura implica “fazer um vazio” no sentido de dar o meu espaço e tempo para que o outro se sinta livre de o preencher. Abertura, neste sentido, não significa concordância, mas simplesmente acolhimento, de modo a que toda a ideia que surja de um diálogo seja fruto do espaço de acolhimento comum de pensamentos que geramos na abertura recíproca.
Por outro lado, ao fazermos nossa a ideia do outro, pelo facto de termos abdicado das nossas ideias, encontramos em nós o primeiro lugar onde confrontar ideias diferentes, de tal modo que ao dirigir-me ao outro, faço-o como se estivesse a dirigir-me a mim (semelhante à regra de ouro). Quero com isto dizer que no final encontramos uma ideia comum? Sim e não necessariamente.
Sim porque essa ideia comum não será certamente a de nenhum dos dois ou mais, mas será uma ideia nova proveniente da abertura recíproca entre todos.
No caso de não encontrarmos uma ideia comum, o diálogo falhou? Eu penso que apenas falha se cair num monólogo ou pregação, como diz Ludwig, e isso é, de facto, o mais frequente entre crentes e não-crentes (contra mim falo, porque falho muitas vezes). Porém, mesmo sem uma ideia comum o diálogo pode ser um sucesso se com a ideia do outro eu compreender melhor a minha, assim como através da minha ideia o outro compreender melhor a sua. Aliás, é esta a base do diálogo inter-religioso, a compreensão recíproca de experiências religiosas diversas. Porque não experimentá-lo entre crentes e
não-crentes? Se aquilo que nos une é a dúvida (Massimo Cacciari), é muito provável que uma ideia comum demore um longo tempo até ser atingida, pelo que a compreensão recíproca deveria ser a forma mais comum de sucesso no diálogo entre crentes e não-crentes.
não-crentes? Se aquilo que nos une é a dúvida (Massimo Cacciari), é muito provável que uma ideia comum demore um longo tempo até ser atingida, pelo que a compreensão recíproca deveria ser a forma mais comum de sucesso no diálogo entre crentes e não-crentes.
Fará tudo isto sentido? Haverá alguma verdade no que acabei de dizer?
Primeiro a vida, depois o pensamento sobre o sentido e verdade da experiência vivida.
É um grande desafio, mas vale a pena …
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