dualismo
(
dual + -ismo)

s. m.
1. Qualquer sistema, doutrina ou teoria que admite a existência de dois princípios necessários, mas opostos.


dualidade

s. f.
Carácter ou propriedade do que é duplo.

Recentemente fizeram-me a observação de que seria uma dualista porque separo radicalmente os “comos” que a ciência nos descreve dos “porquês” que não fazem parte do domínio científico. Quando colocamos nas mãos o “como” funciona o universo e o “porquê” da sua existência, não se está a referir a algo oposto, mas a uma dupla face da busca do ser humano pelo sentido do cosmos. Logo, não seria um dualismo, mas uma dualidade.

Porém, no livro que li recentemente de Maria José Varandas (que recomendo vivamente! – Ambiente: uma questão de ética, Esfera do Caos, 2009), é reconhecido que as «visões mecanicistas do mundo (…) fazem parte do legado do racionalismo» (p. 23). E por isso mesmo, «a revolução mecanicista (…) representa a Natureza como uma máquina e, ao fazê-lo, introduz um irreversível dualismo epistemológico (…) entre o sujeito que conhece (Homem) e o objecto conhecível (Natureza)». E assinala que «é justamente no século XVII, que se assiste à retumbante eclosão de todos os dualismos que justificam o advento da racionalidade moderna: corpo/espírito, homem/Natureza, razão/sentidos, ciência/metafísica, verdade/erro». Ao assentar o pensamento filosófico na racionalidade destes dualismos, o que a ciência não explica (inclusivé aquilo para o qual não tem qualquer capacidade de explicar) é remetido ao imaginário, ficção, incredível, ou seja, ao positivismo. Daí que se conclua que «sem Deus, nem anjos ou demónios, o caminho abre-se para o único senhor do universo que se apressa a reduzir a Natureza a um reservatório de recursos» (p. 27): o ser humano.

A oposição da metafísica à ciência no racionalismo iluminista elimina o conceito de Mistério no seu sentido contemplativo, confundindo-o com o de enigma a resolver pela ciência, e a consequência é o défice relacional que se verifica entre o ser humano e a natureza. Aquela natureza à qual o naturalismo científico reduz toda a nossa existência, objectificada por ser considerada apenas no seu aspecto material, deixando de ser o portal que nos abre ao que está para além de nós mesmos (o seu aspecto mental), e que nos levou ao despertar da consciência no existir.

Recuperar o sentido de Mistério eliminado pelo mecanicismo do naturalismo científico passa pelo reconhecimento da unidade dos opostos quando os elevamos a nível superior de compreensão da realidade, tal como numa abordagem tr
ansdisciplinar
, onde o “como” encontra sentido e significado no “porquê”, e o “porquê” encontra o lugar onde faz a experiência do ser no “como”.