A popularização do diálogo entre Ciência e Fé exacerbou a ideia de um conflito. Mas é mais importante aquilo que nos une e sobre o qual podemos construir alguma coisa, do que aquilo que nos divide e não leva a lado algum. Ainda que “acredite” que todos somos crentes e que a expressão mais correcta para um não-crente deveria ser uma pessoa com convicções não-religiosas, existem duas coisas que os unem, sabiam?
Dúvida
Entre os não-crentes, há um preconceito de que os crentes por terem fé não duvidam. Isso não é verdade. Reparem na resposta de Maria à interpelação do anjo quando lhe disse que iria ser a mãe do salvador – “Como será isso, se eu não conheço homem?” (Lc 1, 34) Maria questionou. Uma vez disseram que ser cristão era difícil porque gera muitas dúvidas e eu sempre experimentei isso. A fé não me leva a acreditar naquilo que não compreendo, mas impulsiona-me antes a procurar respostas para as dúvidas que tenho, na esperança de que existem.
Ninguém sabe o que é a verdade, nem mesmo a pessoa de convicções não-religiosas pode afirmar que Deus não existe porque, tal como o crente, não há nada que o verifique senão o confronto entre a possibilidade e a experiência pessoal. A dúvida é o que nos une na procura pela verdade.
Por outro lado, a dúvida mantém a nossa mente aberta. Caso contrário corremos o risco de nos enclausurarmos sobre a omnipotência das nossas opiniões e impedimos o diálogo. A dúvida tira-nos da zona de conforto para estarmos numa atitude de permanente procura. E ajuda-nos a descobrir o valor de um “não sei” que evita aceitar como falso (ou verdadeiro) algo que realmente desconheço.
Mas há uma segunda ponte que une pessoas de convicções religiosas e não-religiosas. E por esta não estava à espera.
Curiosidade
A curiosidade sempre nos levou mais longe no conhecimento real das coisas. Por exemplo, por vezes penso como falar de Ciência e Fé possa ser alvo de um aborrecimento sistemático. Noto que o desinteresse tem crescido, que as questões são frequentemente tratadas com alguma superficialidade e, mais ainda, demonstram um profundo desconhecimento sobre as matérias em diálogo.
A curiosidade desperta a vontade de estudar e isso pode dar-nos uma imensa alegria e entusiasmo. A curiosidade estimula o desejo de querer saber mais e melhor a realidade que nos rodeia, a realidade que nos é interior e a realidade que está para além do tempo e do espaço, ou seja, a realidade que transcende.
A curiosidade une pessoas com convicções religiosas e não-religiosas porque as leva a um aprofundamento experiencial. É importante experimentarmos juntos a procura pela verdade, impulsionados por uma confiança de que é possível lá chegar.
No caso de pessoas de convicções não-religiosas e que se afirmam como ateus, tenho visto como podiam ser mais curiosos, mas o preconceito de que toda a teologia é falsa as impede de ir mais longe. Sigam o exemplo do ateu Ludwig Feuerbach que era considerado por Karl Barth, um dos grandes teólogos do séc. XX, como mais conhecedor de teologia que muito teólogos.
QUESTÃO: Alguma vez a curiosidade levou-te a procurar algum que no âmbito da Ciência e Fé te tenha suscitado dúvidas? Partilha a tua experiência nos comentários abaixo.