No seu documentário Religulous, Bill Maher afirma que ”O meu grande ponto é ‘eu não sei.’ É isso que apregoou. Prego o Evangelho do ‘eu não sei.’ É isso que estou aqui a promover: a Dúvida. É esse o meu produto. Os outros tipos vendem a Certeza. Eu não, eu estou no lado da Dúvida.” O que Maher apregoa, também eu apregoou, mas sou supostamente um dos tipos que vendem a Certeza. Será que Maher se esqueceu de duvidar de si mesmo?

Dúvida

A dúvida não é a propriedade dos que apregoam uma visão anti-religiosa do mundo. De um mundo que ficaria melhor se as pessoas que têm fé a abandonassem.

O “eu não sei” não é propriedade dos ateus, mas de todo o ser humano, sobretudo dos crentes. Recordo-me sempre da história emblemática da teóloga Isabel Varanda que na sua discussão de doutoramento em Teologia, recebeu do arguente a primeira questão – “quem é Deus?” Procurou responder uma vez com os conhecimentos que possuía de Teologia e fez bem, como reconhecido pelo arguente que voltou a perguntar – “mas quem é Deus?” – Isabel procura responder de novo com mais conhecimento adquirido ao longo do curso e anos em que realizou o trabalho de Doutoramento. O arguente agradece, felicita pela resposta e pergunta… de novo – “mas quem é Deus?” – ao que Isabel responde – “Não sei.” – “Muito bem! Agora podemos começar.” – responde prontamente.

“Não saber” é a única certeza que o crente tem relativamente a quem é Deus. A dúvida é o caminho que o crente que “não sabe” escolhe para aprofundar o relacionamento com Deus, aquilo que consegue conhecer d’Ele, seja através do estudo, da partilha de experiências, ou da sua própria experiência de vida ao incorporar em si a vida do Evangelho.

Quando Maria recebeu do anjo a boa nova de ser mãe do salvador, o que fez? Duvidou. – “Como pode ser isso se não conheço homem?”

A dúvida é o caminho mais seguro de aprofundamento da fé. Sem a dúvida não há impulso para caminhar com Deus. A certeza sem dúvida é inimiga da Verdade, logo, como poderia um crente vender a certezas infundadas quando ama a verdade? Um crente não vende (ou deve vender) a certeza sem dúvida. Um crente ama e faz a experiência da fé encaminhado pela dúvida. A única certeza que tem é a de que Deus o ama imensamente. Por isso, essa é a única que certeza que oferece gratuitamente (não vende) aos outros, isto é, que Deus os ama imensamente.