Li recentemente dois artigos que sumarizavam os resultados de uma conferência ocorrida na Universidade Pontifícia Gregoriana sobre a Evolução Biológica no quadro interactivo da teologia com a ciência.
Destes se podem extrair os seguintes pontos:
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não há incompatibilidade a priori entre as teorias da evolução e a mensagem da Bíblia e da teologia (Arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura)
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a ciência e a teologia representam diferentes campos do conhecimento, análise e interpretação. O incorrecto cruzamento destes campos tem causado confusão e controvérsias ideológicas (…). [Importa] … reconciliar o pensar “Criação” com o pensar “Evolução” sem tornar o primeiro numa teoria científica ou reduzir o segundo a um dogma. (dos objectivos da conferência).
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Se em última análise Deus é o autor tanto da natureza como da revelação divina, não pode haver, essencialmente, uma contradicção entre o conhecimento de ambos. se forem adequadamente interpretados e compreendidos.
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«A descoberta fundamental de Darwin é que há uma processo natural criativo, apesar de não ser consciente» (Francisco Ayala)
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Stuart Kauffman chamou a atenção para a importância da complexidade e auto-organização – em redes – como uma condição suplementar e necessária à evolução por selecção natural.
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Apesar do acaso representar um papel defenido no desenvolvimento evolucionário, como fonte de variação genética, não é de todo a única e principal fonte.
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EVO-DEVO representa uma revolução no pensamento biológico, consistindo esta numa maior compreensão da interacção entre evolução e desenvolvimento. Neste contexto, a activação genética depende fortemente do seu ambiente e história. Assim, os próprios organismos podem afectar indirectamente a sua própria evolução pela forma como afectam o seu ambiente.
Tópicos filosóficos principais que enfretam o diálogo ciência-fé no contexto evolucionário:
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direccionalidade e finalidade: existe uma tendência geral no próprio universo – de configurações quentes, suaves e simples para configurações frias, irregulares e complexas. Esta direccionalidade condiciona grandemente – directa ou indirectamente – como evoluem os subsistemas no interior do próprio universo.
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sistemas diferenciados, relacionamentos e processos que desenvolvem o curso da evolução: prestar atenção para uma teleonomia funcional como um tipo de causalidade final onde diferentes sistemas e partes de sistemas interagem de um modo coordenado, levando a convergências notáveis e as soluções dinâmicas estáveis, mais complexas e diferenciadas. Os novos sistemas provenientes da teleonomia funcional possuem capacidades e potencialidades completamente novas, suportam relacionamentos diferenciados novos, bem como regularidades e processos.
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significado de criação vs. compreensão científica das origens: a criação não é um evento, mas um relacionamento contínuo. Deus como Causa Primeira, não é como outras causas (segundas) que conhecemos, de tal modo que o termo “causa” é apenas aplicado a Deus por analogia. Em vez de Deus micromaquinar ou controlar os objectos e eventos, Deus dá existência ao que não-é e potencia essa existência a agir com autonomia de acordo com os seus dinamismos e capacidades intrínsecas.
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o que é a alma, particularmente a humana: campo aberto com pouco progresso, tendo sido reconhecida a importância de definir bem o que se entende por “espiritual” e “material” de modo a gerar diálogo e compreensão mutuamente criativa entre ciência e religião.
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design inteligente: do ponto de vista de uma adequada teologia da criação e rigorosa ciência natural, a teoria do “design inteligente” que argumenta a necessidade de uma inserção ou intervenção de um designer em “sistemas de complexidade irredutível” é tanto má ciência, como má teologia.
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o que é essencial à humanidade: conforme nos vamos transformando tecnologicamente, como indivíduos e sociedades, é essencial manter o que nos faz humanos – valores, relacionamentos pessoais e sociais, abertura ao transcendente, entre outros.
Pessoas que deram valiosos contributos nos últimos anos para o diálogo ciência-fé no contexto evolucionário:
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Karl Rahner
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Robert Russell
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John Haught
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Denis Edwards
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Philip Hefner
Posição oficial da Igreja Católica sobre a evolução biológica:
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abertura definitiva e aceitação da evolução biológica como uma teoria científica estabelecidade e fortemente suportada pelos recentes Papas, nomeadamente João Paulo II, porém, mantêm-se as reservas relativamente às origens humanas e suas características espirituais únicas. Portanto, as duas áreas onde é maior a necessidade de investigação são: i) teleologia e finalidade da criação; ii) origem do indivíduo e espécie humana.