Neste vídeo o teólogo católico da Universidade de Georgetown John Haught fala da relação entre evolução e kenosis, isto é, o auto-esvaziamento de Deus.

“… terminarei com uma breve reflexão sobre como uma abordagem teológica cristã se poderá aproximar da questão Darwiniana, da receita Darwiniana. E esta é apenas uma das muitas possibilidades – penso – que cada um de nós pode empreender por si em termos da síntese entre fé e ciência. Mas, quando penso no Cristianismo, penso no pressuposto que a maior parte dos pensadores Cristãos fez ao longo das gerações, desde os tempos bíblicos, que nós não deveríamos pensar de todo em Deus, no contexto Cristão, sem primeiro pensar no homem Jesus. E num hino Cristão,  de S. Paulo aos Filipenses, encontramos algumas das primeiras reflexões sobre Jesus. Imaginamo-Lo como estando na forma de Deus, mas não preso a esse estado, Ele esvaziou-se de si mesmo, e passou o que em grego se diz kenosis, e tomou a forma de um escravo. E a reflexão teológica subsequente, não toda, mas uma grande parte, especialmente nos últimos dois séculos, reflectiu frequentemente nisto e chegou à conclusão de que aquilo que está a esvaziar-se é o próprio Ser do Deus Infinito, a Base Infinita e Profunda de toda a Existência. Isso é o que se submete uma kenosis. O Cristianismo acredita numa divindade kenótica que se auto-esvazia.
  Por isso, quando abordamos deste ponto de vista Cristão todo este fenómeno interessante da evolução, ou o mundo natural no seu todo, deveríamos perguntar à luz da visão kenótica da divindade, o que deveríamos esperar que fosse o mundo da Criação. Moltmann diz que deveríamos esperar que a própria Criação do mundo não é tanto uma pirotécnica divina, mas a consequência de um Deus que cria espaço para que algo diferente de Deus possa existir. Deus que, na nossa linguagem imperfeita, retrai-Se, humilha-Se, auto-esvazia-Se, de forma a criar espaço para a alteridade. E a fundação da Criação é esta auto-humilhação, auto-doação de Deus. Isso significaria que não nos devíamos surpreender, ou pensar que a Criação seria instantaneamente perfeita, porque uma Criação instantaneamente perfeita não seria diferente de Deus. Seria apenas uma extensão do próprio Ser de Deus. À luz desta compreensão de Deus, deveríamos esperar também que seria dada uma oportunidade à Criação de se tornar a si mesma, e a evolução seria um deambular, experimentando por si mesma, com diferentes possibilidade de “ser”. Algumas dessas relacionadas com a contingência, acidentes, aleatoriedade, e não nos deveríamos surpreender que isto levaria muito, muito tempo, logo, os nossos 30 volumes [se neles estivesse escrita a história do Universo] seriam, em última análise, apenas a aurora deste “auto-tornar-se” do universo, na presença de um Deus que se auto-retira. Nesta visão, a providência divina e a sabedoria significariam a preocupação de Deus pela independência da Criação. O que Deus quer, tal como disse muitas vezes o teólogo Wolfhart Pannenberg, é a independência da Criação, tal como Deus deseja a liberdade de cada um de nós, Deus quer um universo que nos dá origem, de tal forma que o próprio universo tem um tipo de autonomia e espontaneidade, desde o início. Por isso não nos deveríamos surpreender pela evolução.”