Inteligibilidade significa dar um sentido às coisas e a possibilidade de conhecer esse sentido. As nossas mentes e as ferramentas que a ciência dispõe permitem-nos isso mesmo. Mais do que descrever e explicar o mundo no detalhe, a experiência da inteligibilidade pode levar qualquer cientista a um acto contemplativo. Nesse acto ele encontra um sentido de beleza por tudo o que está à sua volta e a forma como funciona.
Mais do que construções da nossa imaginação, estes actos contemplativos são experiências reais que permeiam o nosso pensamento de valor. Mas se quisermos explicar o valor de uma teoria económica com teoria atómica… não dá. Existem múltiplas camadas de interpretação desta inteligibilidade do mundo.
Se a possibilidade de poder conhecer o mundo, esta inteligibilidade, é o que possibilita a própria ciência, ou seja, esta invenção humana para descobrir o mundo, em teologia não é diferente.
Há quem pense que a teologia pressupõe a inteligibilidade da existência de Deus e não devia, mas seria lógico não pressupor o que se pretende estudar? Se a ciência não pressupusesse a existência do mundo, porque tudo isto não passava de uma realidade virtual como no Matrix, seria lógico estudá-lo? Não fazemos ciência para provar que o mundo existe, do mesmo modo que não fazemos teologia para provar que Deus existe.
Agora, existem várias explicações alternativas para cada uma das diversas realidades do mundo. Diferentes teorias físicas para uma mesma realidade física. Diferentes teorias económicas para uma mesma realidade económica. Diferentes abordagens epistemológicas para uma mesma realidade epistemológica. Mas através da física, economia e filosofia, vamos procurando compreender melhor cada realidade no seu campo e, na sequência desses estudos, algumas das teorias ficam para trás. O mesmo acontece na teologia em relação aos diversos conceitos que temos de Deus, mediante as diversas experiências espirituais existentes no mundo através das diversas religiões.
Existe uma onda de contra-argumentação ateísta que insiste em pressupor a inexistência de Deus para a comprovar, afirmando, sem comprovar, que pressupor a existência e construir uma disciplina nessa base – a teologia – é construir numa base falsa. Bom. Eu penso que a teologia é feita há alguns milhares de anos e que nós, humanos, temos inteligência suficiente para perceber se andamos a construir pensamento sob bases falsas nesse período de tempo. E se tal não aconteceu, o mínimo é não afirmar o que não se verifica.
A base da ciência teológica, ao contrário do que poderíamos pensar é essencialmente experiencial. É um pensamento desenvolvido em torno da experiência de vida dos crentes, do seu contacto com os protagonistas da vida espiritual como Jesus, Maomé, Buda, e não com base em meros pressupostos ou hipóteses. Essas formulam-se quando queremos interpretar e encontrar o sentido e significado da inteligibilidade por detrás das experiências.
Por isso, a possibilidade de conhecer sequer, ou seja, a inteligibilidade, é uma ponte entre a forma como compreendemos o mundo e Aquele que o trouxe à existência, uma ponte entre ciência e fé.