Há quem insista em contrapor ciência a religião, mas é um grande disparate e uma profunda perda de tempo, e recursos do génio humano que pode ir muito mais longe.
Estou neste momento a ler um livro interessante do astrónomo americano e padre jesuíta Guy Consolmagno SJ e o historiador de ciência, e também sacerdote jesuíta, Peter Muellens SJ, intitulado ”Would you baptize an extraterrestrial?” sobre as relações entre ciência e fé. Um dos pontos que me pareceu interessante foi a noção da Unidade Última da Verdade.
Esta noção ajuda a perceber por que razão vale a pena colocar ciência e religião em diálogo, interagindo. Chegar à verdade não é mérito da ciência, nem da religião, nem mesmo do ser humano. Não é mérito. Chegar à verdade sobre o mundo que nos rodeia é um privilégio que nos é dado pela consciência que temos de nós mesmos e daquilo que está para além de nós.
Mas há muitas pessoas que ao colocarem ciência e religião em interacção vêem uma contradição entre as afirmações, ou interpretações de ambas, pelo que avançam com argumentos pelo seu conflito. A questão está em saber se a interpretação que estão a fazer está realmente bem feita. Há quem interprete mal a Sagrada Escritura, ou mesmo aquilo que estudamos e pensamos sobre Deus. E há também quem interprete mal a própria ciência, procurando forçar as interpretações para se conjugarem com a experiência religiosa.
Isso é colocar as questões erradas que não levam a lado algum. As contradições entre ciência e religião são aparentes. E porquê? Porque existe uma Unidade Última da Verdade. A verdade não pode contradizer a verdade. O que deve ser questionado é a interpretação que fazemos, seja pela ciência em relação à religião, ou pela religião em relação à ciência. Sobre isto existe 3 pontos importantes provenientes desta Unidade Última da Verdade.
Confiar
O mundo não é uma amálgama caótica de conceitos, noções, ideias, experiências, mas existem padrões e inteligibilidade. Logo, é importante confiar de que a Unidade Última da Verdade é alcançável. Há quem questione isto, mas só o facto de questionar é, em si mesmo, uma demonstração de inteligibilidade, caso contrário, perguntar “porquê” não faria sentido.
Confiar é um acto de fé, quer em ciência e sobretudo em religião. A tipo de fé não é a mesma, mas é sim a mesma pessoa que as vive e experimenta.
Tensão
Ciência e Religião estarão sempre em tensão, pois, são modos distintos do ser humano ter uma perspectiva do mundo e da verdade sobre ele. O desafio está em como lidamos com essa tensão. Ou optamos por uma atitude de recusa que leva à divisão e nos fecha sobre aquilo que pensamos saber, ou trabalhamos essa tensão para que seja mutuamente criativa. A razão para esta última é porque a meta é a Unidade Última da Verdade.
Seria algo que traria implicações para a visão sobre o cosmos. Pois, enquanto a ciência avança na explicação daquilo que é real, a religião avança na percepção da realidade. Algo que ajuda a manter a nossa mente aberta ao desconhecido conhecível.
E Deus?
Bom, e no meio disto tudo, onde entra Deus? Se a ciência avança, isso não representa um recuo de Deus? Não. Significa antes cometer o erro de considerar Deus como uma explicação para o mundo, quando é antes o seu fundamento. Ora, não tem sentido questionar qual o fundamento do fundamento, certo?
Deus é Aquele que nos acompanha no caminho que Ele próprio é. É Quem nos garante que, seja através da ciência ou da experiência religiosa, a aventura da descoberta da Unidade Última da Verdade permanece aberta e atingível.
Questão: Tens dificuldade em lidar com a tensão entre ciência e religião?