Numa casa de campo uma família acende uma lareira. Entretanto batem à porta. Era um amigo que vinha visitá-los. Esse ao ver a lareira acesa pergunta: “porque está a lareira acesa?”. A explicação do jovem universitário é que a madeira constitui o combustível que juntamente com o oxigénio do ar realiza uma reacção de combustão que produz dióxido de carbono e partículas, como a cinza, que são emitidas para a atmosfera. A explicação do pai é que a lareira está acesa porque ele atirou um fósforo. A explicação da mãe é que a lareira está acesa para assar castanhas e convida o amigo para participar desse convívio. John Haught, teólogo católico americano, designa isto como uma “explicação por camadas”, onde diferentes níveis de explicação coexistem sem qualquer conflito [1]. A reacção química que sustenta a combustão não é uma explicação alternativa à intencionalidade de assar castanhas para um convívio familiar.
Quando transpomos esta leitura de níveis de explicação do real para as realidades últimas e mais fundamentais do universo, não seria de esperar que a intencionalidade de Deus na Criação pudesse ser reduzida ou limitada ao nível da verificação experimental, tal como espera o naturalismo, ou materialismo científico. Aliás, quando isso é feito, isto é, quando os diversos níveis de explicação do real são reduzidos a um só método (reducionismo metodológico), uma só forma de conhecer (reducionismo epistemológico), uma só forma de existir (reducionismo ontológico), não seria possível explicar que se pretende conviver comendo castanhas assadas, uma vez que qualquer explicação científica do facto de haver uma lareira acesa não explicaria o desejo de convívio, nem o pretexto de assar castanhas para enriquecer o desejo de encontro entre familiares e amigos. Segundo John Haught, a acção e criatividade divinas estão em relação para com a natureza (incluíndo a emergência do cosmos, da vida, da mente, da ética e da religião), tal como “assar castanhas para o convívio” está para os processos físico-químicos subjacentes ao fenómeno de combustão [2]. Não é uma questão de escolha entre realidades materiais ou espirituais, mas ambas presentes em cada escolha.
[1] John Haught (2006) Is Nature Enough? Meaning and truth in the age of science, Cambridge University Press, pp. 16-18.
[2] Ibidem., p.17
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A verdade é única e inquestionável.
Nem a ciência e nem a religião são donas da verdade. Quem garante que elas estejam corretas? E quem pode afirmar que não estão corretas?
No final, o que resta???