Um dos elementos essenciais da fé cristã é a ressurreição da carne. Aliás, a ressurreição é de tal modo portadora de novidade que leva muitos a pensar em como Deus cria ainda. O fim está longe. A história faz-se em cada momento. E a matéria exige, talvez, o desenvolvimento do nosso olhar.
Ao reflectir sobre a ressurreição da carne, uma das coisas que me questionei foi se sei ainda qual o sentido e significado da palavra carne. Precisamente por aquilo que significa a Ressurreição da carne. O pensamento mais evidente sobre a carne corresponde ao aspecto material que nos identifica. Mas com a ressurreição de Jesus damos-nos conta de que esse aspecto não se reduz ao material.
Não é difícil entender que a dimensão espiritual faz também parte do ser humano. Há percepções que provêm da nossa consciência que usam dos pulsos sinápticos que ocorrem no nosso cérebro para se manifestarem, mas são a sintaxe, não a semântica. A partir dos pulsos não podemos deduzir o sentido e significado daquilo em que pensamos. As percepções auto-conscientes que temos fazem parte do modo como a dimensão espiritual se manifesta em nós.
É por este motivo que não somos meramente corpos, mas corpos espiritualizados e espíritos corporalizados. Não há separação em nós do que é corporal e espiritual, apenas distinção. O facto de Deus ter-se feito ser humano em Jesus, independentemente de como o fez, o facto em si demonstra como também a matéria é sagrada. E aqui há uma ligação que não me tinha apercebido antes.
Sobre a matéria
Pelo facto de Jesus se ter feito homem, não deixou de ser Deus. É essa, pelo menos, a crença cristã. Depois, se Deus é amor, Jesus é também amor. Aliás, sendo os seres humanos feitos à imagem e semelhança de Deus, também eles devem olhar-se como amor. Somos também amor. Bom, se Jesus não deixou de ser Deus e é amor, a matéria que assumiu não pode levá-lo a deixar de ser, em plenitude, aquilo que é… amor. Logo…
…a matéria é amor também.
No seu sentido mais profundo em termos de significado, cada aspecto material deste universo é amor também. Desenvolver com o tempo este olhar pode ter implicações mais profundas do que pensamos. De qualquer modo, é importante neste pensamento distinguir aquilo que as coisas são do modo como as usamos, ou como elas se manifestam aos nossos olhos. Tudo o que pensamos sobre o que se manifesta aos nossos olhos pode ser renovado se o nosso olhar se renovar também.
Em relação ao nosso olhar
Quando olhas para uma rocha, o que deverias ver?
Amor.
Quando olhas para um rio, o que deverias ver?
Amor.
Quando olhas para cada árvore de uma floresta, o que devias ver?
Amor.
Este é o primeiro passo para compreender melhor – penso – como a matéria é amor. Ou seja, fazer a experiência apesar de não a compreendermos totalmente. É isso que procurarei experimentar e convido-te a experimentar também.
Questão: na tua opinião, quais os maiores obstáculos à capacidade de olhar a matéria e de a ver como amor?”
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