Quantos de nós estamos seguros de que a teoria do Big Bang justifica “cientificamente” que Deus criou o Universo? Michael Heller, cosmólogo, sacerdote polaco e vencedor do prémio Templeton em 2008, pela sua vida académica e reflexão filosófica ajuda-nos a afirmar a dimensão espiritual da vida como componente importante daquilo que é “real”.
Existe então relação entre o Big Bang e o “momento da criação”? Heller responde que «existem fortes razões que impedem a identificação da singularidade inicial com o “momento da criação”». Como!? O que é então uma singularidade inicial (leia-se Big Bang)? Diz-nos Heller que o “nada” de onde surgiram as partículas fundamentais de que é feito o nosso corpo não é igual à forma como os filósofos entendem o “nada” ou o “não-ser”. O nada a partir do qual surge o universo é um nada “matemático”, ou seja, o nada do ponto de vista do modelo matemático que procura explicar a origem do universo (leia-se Big Bang), é apenas aquilo sobre o qual o modelo “nada sabe dizer”! O que está fora do modelo, o modelo não especifica.
O que se sabe hoje é tremendo para as nossas cabeças mais simples. É que o “segundo zero” a partir do qual pensamos que terá surgido o universo não existe! Efectivamente, os cientistas descobriram que só há tempo e espaço a partir de “0.000…(40 zeros)…01 segundos” (também chamado de tempo de Planck). Pergunta: o que havia, então, “antes” disso? Ora, se o conceito de “tempo” só aparece “depois”, perguntar o que havia “antes” deixa de fazer sentido! Confusos? Ainda bem, porque isso significa que perceberam o essencial da contribuição de Heller, isto é, não chega aceitar cegamente o resultado de uma teoria matemática, é importante que a interpretemos filosofica e teologicamente, algo que Michael Heller chama de “exegése de uma estrutura matemática”. Enquanto que a ciência explica o “como” das coisas, a filosofia e a teologia ajudam a entender o “porquê” das coisas. Neste caso, não podemos identificar o Big Bang com o “momento da criação” porque o pensar criador de Deus está para além do tempo e do espaço.
Caro Miguel, está de parabéns. Tivemos a ousadia de publicar o seu artigo no blog Jogo Social.>Cordialmente,>Nelson Rodrigues>ADMINISTRADOR
Caríssimo Nelson,>>obrigado pelo interesse. Fico muito contente por ter considerado o artigo um contributo para o vosso interessante blog.>>Cordiais saudações,>Miguel Panão
Miguel,
A filosofia e a teologia postulam o “porquê” das coisas… não ajudam a entender nada.
Sem a ciência ainda estávamos na Idade Média porque já nessa altura a teologia já sabia o porquê de tudo.
Caro Herler MC,
sei que está enganado. Antigamente, qualquer teólogo que não estivesse a par com a melhor ciência do seu tempo não fazia boa teologia. Hoje deveria se mais que antigamente, segundo criticas de alguns teólogos.
Contudo, pelo menos na tradição Cristã, a teologia motivou sempre a fazer mais e melhor ciência, pelo que não entendo as suas palavras.
Miguel,
Encontrei seu blog por acaso, mas fiquei feliz com o que estou lendo por cá.
Li tambem no blog “treta” a sua intervenção e o debate que você enfretou com muita audacia e conhecimento…me deu alguma alegria ver como existes pessoas de fé que defendem a existência de Deus e da Religião segundo o melhr conhecimento e a melhor razão.
Queria fazer-te umas indagações: Conheces o Argumento cosmológico de Kalan em defesa do Ateísmo na forma como foi proposto por Quentin Smith? que achas da tese que ele propôs? O Argumento me pareceu forte, ainda que nao o tenha entendido por completo, pois meus conhecimentos não alcançam a toda tese demonstrada.
Aguardo suas considerações.
Abraços
Caro Anónimo,
muito obrigado pelas palavras amáveis e sinceras.
Agradeço-te muito a sugestão. Já tenho esse capítulo do Quentin. Irei lê-lo com atenção e quem sabe não me inspirará num próximo post. Fica atento.