No último número da Science & Christian Belief de 2008, Sir John Polkinghorne escreve sobre o que se deve esperar deste interessante e importante debate entre fé e ciência num futuro próximo.
Um primeiro comentário refere-se à impressão tipicamente deixada pelo críticos do diálogo entre fé e ciência (e.g. Richard Dawkins): prestam pouca atenção ao extenso trabalho que tem sido feito sobre este tópico.
Reconhece como uma das componentes importantes no futuro deste debate, a demonstração de que a teologia se preocupa, tanto quanto a ciência, em procurar a verdade através da crença motivada. Assim, deveria aproveitar-se toda e qualquer oportunidade de divulgar a complementaridade entre estes dois saberes.
Em ciência, um dos importantes desenvolvimentos diz respeito à possibilidade crescente de estudar sistemas de complexidade moderada, tratados na sua totalidade e não como a simples somas das suas partes. Sistemas complexos possuem uma capacidade auto-organização admirável, que nunca seria deduzida da interacção dos seus constituintes. Tal como afirma Polkinghorne «mais é certamente diferente; o todo excede a soma das partes». Deverá haver uma teoria por trás do fenómeno da complexidade e dois dos conceitos fundamentais apontados são o holismo e a informação.
Por informação referimo-nos ao padrão de comportamento dinâmico da complexidade, cuja definição como conceito, no séc. XXI, estará a par daquilo que o conceito de energia representa actualmente para a ciência física.
Com um futuro promissor encontram-se também as contribuições que a psicologia poderá dar na área da antropologia teológica. Mas um dos problemas maiores que irá ser enfrentado pela teologia refere-se à compreensão da diversidade existente degrandes tradições de fé ao nível mundial. Todas procuram falar do encontro do homem com a dimensão sacra da realidade, porém de formas muito diferentes. Estas diversidade de formas contrasta com a ciência moderna cuja recepção de ideias é mais universal. Tal como diz Polkinghorne, «parem alguém em Londres, Deli ou Tóquio e perguntem de que é feita a matéria e, desde que escolhamos pessoas bem informadas, quase sem dúvidas que receberemos a resposta: ‘quarks e gluões’. Parem três pessoas numa rua das mesmas três cidades e perguntem-lhes a questão religiosa sobre qual a natureza última da realidade, e muito provavelmente receberemos três respostas muito diferentes». O carácter sectário da religião constrasta com o carácter universal da ciência. Por isso mesmo, o diálogo entre fé e ciência poderá constituir um daqueles espaços de encontro para um fecundo diálogo inter-religioso. Polkinghorne considera este como um dos desenvovimentos futuros mais significativos.