A interacção entre ciência e fé ocorre em cada ser humano. Por isso, onde essas entram em conflito, não se falam, se confundem ou dialogam, é ti e em mim. Uns crêem sem ver, outros exigem ver para crer. O problema que impede qualquer diálogo positivo poderá estar no intelectualismo dessa interacção.
Por mais ou melhores ideias que tenhamos de Deus, se a raiz dessas ideias não for uma experiência concreta, corremos o risco de intelectualizar a nossa fé, ou ausência dela. É um perigo, não pelo resultado ou conclusões, mas pela perda de tempo que isso pode gerar. Uma perda que pode ir de minutos a anos.
Aquele que se identifica como crente com base nos resultados da sua fé, quando essa deixar de produzir resultados, muito provavelmente, deixa de crer. Por razões válidas? Não me parece. As razões estão ligadas à evolução da nossa experiência da relação entre ciência e fé. Vejamos.
Cada um de nós constrói a sua identidade espiritual com base nos processos que fazem parte da sua vida, e resultados que obtém nesses processos. Por exemplo, o facto de ser crente não assenta no resultado de uma ideia testada, mas de uma experiência concreta que proveio da minha identidade como crente.
O problema de muitos ateus em relação aos crentes está aqui. Exigem dos crentes resultados, que expliquem os processos e depois avaliam se vale a pena ser ou não crente. Esta é a direcção involutiva do intelectualismo. Penso que só o experiencialismo nos coloca numa direcção evolutiva num diálogo entre ciência e fé.
Se não és crente, só partilhando da vida concreta do crente poderás entender a sua experiência.
Se és crente, só partilhando da vida concreta do não-crente poderás entender a sua experiência.
Uma ideia desprovida de vida é como uma vida desprovida de ideias: maçadora. As ideias geram vida, e a vida suscita ideias quando fazemos experiências concretas. É aí que está o fascínio de um diálogo produtivo entre ciência e fé.