Nos momentos de maior tensão na nossa vida, ou de maior incerteza sobre o futuro, ou mesmo o presente, há uma questão que emerge naturalmente como o desejo de procura do sentido e significado daquilo que vivemos: de onde vimos?

origens

As origens da humanidade e da nossa capacidade de amar, pensar, estar conscientes, e de como a semântica (pensamento) depende da sintaxe (cérebro) foi sempre um motivo de deslumbramento.

Penso que existam cronologicamente três origens para a humanidade.

Origens no Universo

A primeira seria, sem dúvida, a origem do próprio Universo. É curioso como esse possua “origem” e depressa somos tentados a pensar e debater qual a razão dessa origem. Cientificamente, a pergunta manter-se-á porque, por mais que expliquemos “como” se deu essa origem, quais os mecanismos físicos, a “razão”, o “porquê” é algo que transcende a materialidade.

Pode haver quem questione se é necessário haver razão sequer, ou ainda questionar se o “porquê” não poderia vir a partir de uma ausência de “porquê.” Acho bem que se questione, pois só questionando é que mantemos a mente aberta à compreensão das nossas origens. Talvez fosse prudente deixar que a questão continue a trabalhar em nós sem querer dar uma resposta definitiva. Talvez seja uma pergunta que deve manter-se como tal para abrir a nossa mente a tantas outras respostas e experiências.

Origens da Vida

A segunda origem deve-se, naturalmente, à origem da vida. Materialmente, somos pó das estrelas. Biologicamente, fazemos parte de um mundo em evolução. Mas como humanidade, somos seres em relação, conscientes de si.

A emergência de vida é algo misterioso. Podemos pensar nos seus três ingredientes: selecção natural, contingência e tempo. Podemos estudar os processos como os ingredientes interagem e em que “quantidades”, mas – tal como qualquer chef te diz que o ingrediente final é o amor que o cozinheiro coloca naquilo que faz – também a vida emerge por um acto de amor misterioso neste universo.

De quem?

De quê?

Deus?

Nada?

Gravidade?

Origem da Consciência

A terceira origem provém de uma linha evolutiva que parte da primeira origem com as partículas no universo. Essas relacionam-se para formar átomos. Os átomos interagem e formam moléculas. As moléculas interagem e formam macro-moléculas. As macro-moléculas interagem e formam células. As células interagem e formam pequenos organismos. E se notarem bem, em cada passo interactivo ocorre um incremento de complexidade. É aquilo a que Pierre Teilhard de Chardin chamava de Lei da Complexidade-Consciência.

Sim, a terceira origem ocorre por uma auto-transcendência activa, como lhe chamava Karl Rahner, em que superamos a mera percepção do ambiente para sermos o universo que pensa sobre si mesmo. Mesmo se essa consciência depende de um cérebro, neurónios, sinapses, partículas, não se reduz a esses elementos, mas abre a janela a toda uma noção de realidade que está acima e para além daquilo que poderíamos imaginar.

A que daremos origem?

Qual será, então, o resultado de um incremento de complexidade da consciência? A que daremos nós origem?

Não sei.

O certo é que a consciência nos abriu a uma dimensão espiritual da realidade.

Nessa dimensão, relacionalmente, percepcionámos Deus.

Quem é Deus?

O que é Deus?

A resposta mais correcta é: não sei.

E a atitude mental mais correcta diante desta resposta é: … ainda.