No passado dia 28 de fevereiro fui convidado a fazer parte de um painel muito interessante de experiências organizado pelo Centro Universitário Manuel da Nóbrega (CUMN) intitulado GOD Talks. Partilho-vos o que disse por lá. Mais do que grandes ideias, tudo não passou de pequenas histórias de uma vida normal. A minha e, quem sabe, que encontre eco na tua também. E começou por um episódio caricato da minha história.
És a ovelha perdida ou estás entre as 99?
“Qual de vós é o homem que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, e não vai em busca da que se havia perdido até achá-la?” (Lc 15, 4)
Ao reflectir num encontro de grupo de jovens sobre esta parábola de Jesus o P. Carlos perguntava-nos, consideras-te uma ovelha perdida, ou que te encontras entre as 99 que estão com o seu pastor. Quando chegou a minha vez, só havia uma resposta que me passava pela cabeça e disse-a – “Bom, eu consider-me uma ovelha perdida no meio das 99.”
A minha vida era (e é) muito normal. Posso fazer muitas coisas, mas não fazia nada de especial. Gostaria de ter uma vida aventureira, mas não era o meu estilo. E é nesta normalidade que entra o interesse pela ciência e fé.
Se sentes ter uma vida normal, fica tranquilo. Não é mau de todo. Acredita.
Ler, ler, ler
Depois de casar, em 2003, comecei a prender italiano lendo. A minha esposa sabia italiano e, enquanto tentava perceber a língua ia-lhe perguntando o significado de palavras menos parecidas com o português como “quindi”, “magari”, “cioè”, etc.
No meio dessa aprendizagem deparei-me com um artigo que falava dos modos de interacção entre ciência e fé. Finalmente, pela primeira vez, lia nomes a esta relação que não me incomodava, mas que desconhecia por completo. Foi um momento de luz. Esses nomes eram a terminologia de Ian Barbour: conflito, independência, diálogo e integração.
A partir das referências desse artigo, uma delas, um livro, estava à venda na Amazon em 2a mão por $4. Não resisti e comprei. Bom, escusado será dizer que foi o primeiro de muitos porque comecei a ler, ler, ler.
Sabem, quando passamos muito tempo no laboratório a medir e já lemos tudo o que havia para ler na nossa área de investigação, bem como os 3 livros do Senhor dos Anéis (!!!) – e não me refiro a nenhum livro sobre os Audi – enfim, comecei a ler teologia e filosofia ligadas à relação apaixonante entre ciência e fé.
Se queres perceber melhor esta interacção, aconselho-te. Lê, lê, lê… pois, quando mais lia, mais percebi que pouco sabia, e mais crescia em mim o desejo de saber mais.
Uma ovelha perdida
Porém, nem tudo foram sabores. Um dia, um grande amigo escreve-me a dizer que deixou de acreditar em Deus porque a ciência explica tudo. Ele que tinha influenciado profundamente o meu caminho espiritual com a sua presença, pensamento e amizade, orientação de grupos de jovens e grande empenho catequético. Não sabia o que pensar excepto que, se a ciência explica tudo, eu iria ficar sem trabalho, certo!?!!
Era para mim o sinal de que não importa os empenhos que temos na Igreja para fazer uma experiência de Deus. Isso não o impediu de se tornar uma ovelha perdida que o Pastor continua à procura do modo de se encontrar com ela, seguramente, de um modo mais profundo.
Esta experiência não me abalou, mas antes confirmou a importância de aprofundarmos sem, sempre a nossa relação com Deus e a compreensão que temos do Mistério que Ele é.
Foi essa experiência que resultou num livro que publiquei mais tarde com a resposta a 12 questões que me colocou: “Challenges in Science and Faith.”
No fim… o que dizer?
Aproximando-me do final, falei um pouco da riqueza do diálogo com os não crentes. Quanto mais não seja ajudou-me a perceber o grande valor da dúvida no aprofundamento da minha fé e recordei algo que – como Católico – gostaria de recordar a ti também… se for o caso.
Aquelas 3 cruzes que fazes antes do Evangelho, no âmbito da ciência e da fé, adquirem um significado que vale a pensar ter presente.
+… mente aberta
+ … palavras abertas
+ … coração aberto
Experimenta pensar nisto quando as fizeres da próxima vez.