O passado Domingo de Ramos é o Dia do Paradoxo. Na prática, Jesus passou em poucas horas de bestial a besta, como diríamos na nossa gíria. Aqueles que o aclamaram e acolheram em Jerusalém, pouco tempo depois gritam – “Crucifica-o!” Um paradoxo.
Ser cristão não é fácil porque o paradoxo faz parte da caminhada para uma união mais forte e plena com Deus. Por exemplo, naquele grito de Jesus abandonado na cruz encontro o ápice do “não-ser” que, por amor, “é.” E com a escolha de vida cristã, tudo encontra aqui a sua medida e sentido.
O negativo aos olhos do mundo, quando visto com o olhar do amor, encontra um novo sentido e significado que pode levar-nos a fazer uma experiência transformativa que muda radicalmente a nossa vida.
Por isso, ainda que não consigamos perceber tudo o que de negativo acontece na nossa vida, o convite do Domingo de Ramos é a contemplar o silêncio como um acto concreto de pausa que nos centra no que é essencial. Parecem-me ser três as atitudes que podemos aprender com Jesus na vivência do paradoxo.
Silêncio
Diante de todos os questionários, Jesus fez mais silêncio do que dar explicações. Ao contrário do que possamos pensar, o silêncio pode ser uma atitude bem mais activa do que uma resposta qualquer. O silêncio corresponde apenas a um momento de pausa para encontrarmos o ritmo com a própria vida e as contingências que nos oferece.
Saborear
O momento da Páscoa de Jesus com os seus discípulos é um exemplo de como é importante valorizar e não descurar os momentos que passamos com os que mais amamos. Actualmente faz-me muita impressão ver as pessoas sistematicamente ligadas ao seu ecran de telemóvel a ver não sei bem o quê quando estão diante de pessoas que – supostamente – mais amam. São os momentos em que tocamos, escutamos, falamos e vivemos com os outros que dão sabor à nossa vida, não os conteúdos viciantes que nos chegam através de um ecran.
Perder
Fico sempre tocado pelo grito de Jesus na cruz. Ele que era Deus sente-se abandonado pelo Pai, que é Ele também, por amor. É o paradoxo dos paradoxos. Mas isso significa que Deus conhece bem a nossa fragilidade. Não apenas a humana, mas a que limita o mundo e, por via dessa limitação, cria no mundo as oportunidades de sermos mais.
Quantas vezes não perdeste na vida, ou te sentiste abandonado, ou menos do que pensavas ser, ou limitado, incapacitado, feio, pobre de sentimentos e razões de viver. Saber que naquele momento do alto da cruz um grito resume todos esses momentos, dá um sentido ao que antes não tem. Perder não é mau se souberes perder. E o único sentido que encontro para saber perder é se o meu olhar for o reflexo de um amor genuíno por aquilo que olha.
Questão: achas possível aprender alguma coisa com os paradoxos?