Será a ciência incompatível com o ponto de vista religioso?

Daniel Dennet está ocupado em alimentar os fogos de descontentamento entre ciência e religião. Para nós, não se entende porquê. Nós estamos a ser muito específicos em querer ver a ciência como não tendo o compromisso do materialismo que afirmam Dennet, Crick ou  Lewontin. Em vez disso, nós insistimos que a ciência é uma viagem humana maravilhosa que explora o mundo natural e contrói os modelos explicativos que enriquecem a nossa compreensão do mundo. Não vemos qualquer necessidade de isto estar, de qualquer maneira, em oposição à nossa fé em Deus. Pelo contrário, vemos a empresa científica como algo que deve inflamar o nosso desejo de conhecer Deus com maior profundidade.

No seu livro “A êxtase[1] de Deus”, Beatrice Bruteau escreve porque um Cristão contemplativo precisa de compreender a ciência. Ela diz: “a conclusão para a pessoa religiosa deve ser que o mundo é o trabalho mais pessoal de Deus, por isso, algo para nós conhecermos, admirarmos e reverenciarmos, tomarmos parte nele, contribuir em criar – uma vez que é feito como um universo que se auto-cria.”

Bruteau expressa deslumbramento acerca do mundo natural tal como é revelado pela ciência. Ela não vê qualquer incompatibilidade entre a sua fé Cristã e esse mundo. De facto, ela exige que os Cristãos se devam interessar pelo mundo tal como a ciência o vê, porque é esse mundo pelo qual Deus se interessa.

Em particular, com referência ao modelo da biologia evolucionária, o teólogo de Georgetown John Haught escreve sobre “o dom de Darwin à teologia.” Ele argumenta que “o conteúdo central e original da fé Cristã providencia-nos uma imagem de Deus que não é só logicamente consistente com a imagem Darwiniana da vida, mas também fecundamente iluminativa.”

Esta é uma afirmação forte – Deus consistente com a imagem Darwiniana da vida? Como pode ser isto?

Haught desenvolve as suas ideias no enquadramento da sua fé Cristã Católica Romana. Ele diz-nos que o infinito amor de Deus é que resultou nesta criação. O facto de estarmos ainda num processo de “dever ser”, ainda em criação, é um ponto central para compreender como a evolução se ajusta com a visão Cristã do mundo. Haught argumenta ainda que o amor de Deus vai tão longe que permitiu o Seu Filho tomar parte desta criação que ainda evolui. Deste modo, a incarnação e o sofrimento na cruz são vistos como cruciais à reconciliação entre a teologia e Darwin. Para Haught, aceitar a evolução com todas as suas implicações é essencial para a compreensão teológica do acto redentor de Cristo.

Por isso, a nossa curta resposta é sim; ciência e religião são compatíveis. Até mais do que isso, ciência e religião têm muito a dizer uma à outra.



[1] Êxtase entendida como movimento fora de si mesmo em direcção ao outro, não no sentido emotivo de experiência subjectiva de alienação de si mesmo.