Quem não deseja mudar o mundo para melhor? Intencionar é importante, mas sem os actos concretos, de pouco ou nada servem as nossas intenções. O curioso é como poucos pensam naquilo que realmente podem fazer ao mundo. Amá-lo. E amando, mudá-lo.
Recentemente ao folhear pelo livro de Teilhard de Chardin “A Minha Fé – A Matéria e Deus,” deparei-me com um excerto interessante,
”Ao Mundo, agora, sei que me apego e que regressarei, não só pelas cinzas da minha carne, mas por todas as potências desenvolvidas do meu pensamento e do meu coração. Posso amá-lo.”
E que quer isto dizer? Amar o mundo, mas como? Teilhard refere-se posteriormente a uma “esfera superior do Pessoal e das relações pessoais”, logo, amar o mundo tem muito a ver com a noção que temos de pessoa.
A ciência procura compreender o mundo. As ciências humanas procuram compreender o ser humano. A teologia procura compreender Deus. Mas reconhecer-se como pessoa pode ir para além daquilo que compreendemos, seja com a razão ou a emoção.
São os relacionamentos que nos mostram aquilo que realmente somos e, enquanto amar os outros parece algo fazível, amar o mundo parece mais um wishful thinking, ou um exercício de especulação pura sem qualquer ponto de apoio que leve à sua concretização. Eu percebo que seja assim e reconheço como é difícil fazer algo de concreto que seja expressão deste “amar o Mundo” de que fala Teilhard. Mas, como em tantas coisas, não precisamos de conhecer todo o caminho, ou todos os passos a dar. Basta dar um primeiro passo, e depois outro, e – pouco a pouco – adquirir a experiência e traçar, assim, o caminho.
Se os relacionamentos nos personalizam, posso, ao menos, fazer uma experiência concreta de maior relacionamento com a natureza, de tal modo que, ao longo do tempo, não consiga passar um só dia sem ele. Ou seja, trata-se de nos habituarmo-nos a relacionar com a natureza. Mas, para criar qualquer hábito é preciso dar o primeiro passo, e continuar a dá-lo, todos os dias, repetidamente. Mas precisa de ser um passo simples e fácil, caso contrário, existe a resistência que causa fricção aos nossos actos, frenando-os.
A minha sugestão é passear 10 minutos por dia num ambiente natural. Se possível, depois de momentos intensos de trabalho com um duplo objectivo: i) restaurar a nossa atenção (tal como foi demonstrado pela Teoria da Restauração da Atenção); ii) e re-descobrir a importância de nos sentirmos parte do mundo natural. E, acreditem, 10 minutos nem é assim tanto. O facto de ser uma iniciativa que faz bem à saúde pode servir de motivação intrínseca, mas há uma segunda sugestão que complementa esta.
Escrever o que quer que seja que nos passou pela cabeça nesse passeio num Diário. E quando refiro escrever, não quero dizer digitalmente, mas à mão. Hoje existem cadernos muito pequenos que cabem em qualquer bolso. E o que escrevemos não precisa de ser extenso. Basta, por vezes, uma só frase, ou palavras soltas. O acto de escrever à mão o que nos passa pela cabeça enquanto entramos em relação com a natureza pode ajudar-nos a descobrir muito sobre nós próprios. E uma vez esvaziados das nossas preocupações e ocupações, gradualmente criamos espaço para começar a contemplar. E quem sabe que passos seguintes estes dois despertarão? Podes aceitar este desafio e começar um dia, ou escolher o dia-um para começar. Não percas tempo. Escolhe hoje.