Há pouco tempo, um aluno de uma escola secundária perguntou num colóquio: Quem criou Deus?
O Prof. Jacinto que nesse colóquio participava responde que essa é uma história antiga e que desde sempre o homem criou deuses, ídolos. Foi Deus que criou o homem, ou o homem que criou Deus?
A questão foi posta, mais recentemente, por Richard Dawkins sob o argumento da improbabilidade:
Todo o argumento volta-se para a questão familiar “quem fez Deus?”, que a maior parte das pessoas que pensam descobrem por si mesmas. Um Deus designer não pode ser usado para explicar a complexidade organizada porque qualquer Deus capaz de projectar qualquer coisa teria de ser suficientemente complexo que exigisse o mesmo tipo de explicação. Deus apresenta-se uma regressão infinita a partir da qual ele não nos pode ajudar a escapar. Este argumento (…) demonstra que Deus, apesar de não desaprovável tecnicamente, é, de facto, muito improvável.
Richard Dawkins, A Desilusão de Deus [1]
Ponto essencial: o Deus que Dawkins pretende desacreditar é um Deus-designer. Óptimo! Porque nesse deus também os Cristãos não acreditam! Há 40 anos, o então Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, dizia que não se deve pensar Deus como um artífice, mas como o seu pensamento é criativo. [2]
Então, em que Deus acreditam os Cristãos?
Como sublinha Bento XVI na sua primeira encíclica, num “Deus que é amor”.
Como se aplica o argumento da improbabilidade que leva Dawkins, e outros como ele, a afirmar que «é quase certo que Deus não existe», a um Deus que é amor? Como provar a Sua inexistência? Será a ausência de evidência, evidência de ausência?
Qualquer diálogo entre cientistas e teólogos não ocorre ao nível de um discurso científico, ou religioso, mas filosófico. Diz Wolfhart Pannenberg, um dos teólogos com contributo mais importante na interacção entre ciência e religião que os «cientistas ao falarem sobre o significado geral das suas equações e teorias, fazem-no já com algum nível de reflexão filosófica. Digo, “algum nível”, porque o seu falar nem sempre mostra o mesmo grau de reflexão filosófica intruída. A sofisticação filosófica pode ser muito pobre». [3]
É esta a critica generalizada de muitos filósofos por todo o mundo a pessoas como Dawkins, e
xpressa por Jorge Coutinho [4] como: «Dawkins navega em águas de outra circunscrição que não é própria do cientista, por mais que alimente a pretensão de o fazer como cientista». E até poderia fazê-lo! Mas pelo facto que o fazer mal, filosoficamente, comete o erro para o qual alerta Pannenberg e que leva muitos a perceberem, tal como Coutinho que, «Dawkins [e outros como ele] desqualifica-se a si mesmo como pensador».
xpressa por Jorge Coutinho [4] como: «Dawkins navega em águas de outra circunscrição que não é própria do cientista, por mais que alimente a pretensão de o fazer como cientista». E até poderia fazê-lo! Mas pelo facto que o fazer mal, filosoficamente, comete o erro para o qual alerta Pannenberg e que leva muitos a perceberem, tal como Coutinho que, «Dawkins [e outros como ele] desqualifica-se a si mesmo como pensador».
Neste sentido, penso que vale a pena sermos críticos relativamente aos que promovem o conflito entre ciência e religião. Questionar as suas motivações filosóficas. Pensar em como as sustentam. Confrontar-se com outros sobre as suas conclusões.
[1] Dawkins, Richard, The God Delusion, Bantam Press, 2006.
[2] Criação e Evolução, UCEditora, 2007.
[3] Pannenberg, Wolfhart, “God as Spirit – and natural science”, Zygon, 36 (4), pp. 783-794, 2001.
[4] Coutinho, Jorge, “Em torno de ‘A Desilusão de Deus’, de Richard Dawkins”, Didaskalia, XXXVIII (2), 483-491, 2008.