Se tem a certeza de que Deus existe, como tem essa certeza?
Pela experiência humana de Deus. O ser humano é fruto de uma evolução de 13.6 mil milhões de anos. O incremento de complexidade de fotões e quarks para o átomo -> molécula -> célula -> multicelularidade -> animal -> homo -> ser humano é acompanhado, segundo Teilhard de Chardin, por um incremento de consciência. É pela consciência que o ser humano se exprime como o mundo natural capaz de se compreender. Ora, desde que surgiu a nossa espécie humana que o ser humano percepciona o espiritual (ex. rituais fúnebres), ou seja, percepciona que existe algo para além do que é capaz de tocar, cheirar, saborear, ouvir ou ver. É o que Karl Rahner argumenta como um momento de auto-transcendência activa, a partir do qual o ser humano experimenta fisio-intelectualmente algo que está para além do tempo e do espaço, dando-se início ao processo de hominização que nos trouxe até aqui. Quando pela primeira vez na história do Universo o homo sapiens diz “Deus existe”, toda a sua existência passa a fazer sentido, e este evolui para o homo sapiens sapiens, ou seja, o “homem que sabe que sabe”. Caso contrário não se teria desenvolvido a cultura humana como aconteceu, na arte, tecnologia, política, etc … expressa nos mais diversos monumentos dedicados a Deus ou às divindades. Porém, descobrir mais sobre Deus, revela ser, para o ser humano, a aventura de se descobrir como imagem de Deus. Nessa aventura a ciência possui um papel essencial. Porquê? Porque muito foi atribuído à natureza de Deus, ou acção de Deus, ou relação de Deus com o mundo, que não fazia parte dessa natureza, acção ou relação com o mundo. Tendo em conta que a ciência é um fruto da intelectualidade humana criada por Deus através da evolução, ela é Dom para que a Humanidade descubra mais e melhor quem é Deus, permitindo assim aprofundar a relação com Ele. Muitos encaram que a ciência explica cada vez mais, e consequentemente, Deus explica cada vez menos. A falácia do argumento é que Deus não explica, nem nunca deveria ter sido invocado como explicação para fenómenos naturais, ou culturais, ao invés: Deus ama. E amando cria. Cabe à ciência explicar as realidades contidas no universo, e deve explicar cada vez melhor. Cabe à teologia estudar o sentido que tem a explicação científica no quadro da Criação de Deus, e nas relações entre os seres humanos e destes com a natureza. Significa isso que o diálogo do conhecimento científico com a sabedoria teológica (qualquer que seja a tradição religiosa) abre o espaço para uma visão mais integral do mundo e dá-lhe sentido. Mas é tudo isto que me dá a certeza de que Deus existe? Penso que não, é a experiência humana de Deus, mas tudo isto que disse até agora consolida a certeza que tenho, e isso … parece-me importante.