Onde está Jesus?

A pergunta é legítima e mais importante que se possa imaginar, sobretudo nos dias de hoje. Se ressuscitou, onde está? A resposta do Cristianismo centra-se na presença de Jesus na vida de cada ser humano, da humanidade inteira e no cosmos. No evangelho, S. Mateus escreve “Onde dois ou três se reunirem em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18, 20). Uma vez ouvi, “quando dois ou três se amam, Deus corre para o meio deles”. Nas palavras de uma criança, também ouvi que a presença de Jesus “não se vê, mas sente-se.” No discurso teológico, a presença de Deus ocorre sempre no amor recíproco. Por isso, onde? No meio de nós. Mas vê-se? Não, mas sente-se. Logo, em última análise, é uma experiência humana do divino que dá sentido às nossas vidas. É isso que se encontra quando se faz uma experiência humana da presença de Jesus: sentido para a vida. Sobretudo, saliento que esse encontro sensível da presença de Deus faz-se amando os outros, e mesmo até quando amamos a natureza. No Catolicismo, Jesus está presente de forma concreta pela Eucaristia, tal que, nela cristificados, não só formamos um só corpo em Cristo, como nos tornamos (ao morrer e ser consumidos pela terra) eucaristia para o cosmos, transformado-o (C. Lubich, La Dottrina Spirituale, Oscar Saggi Mondadori, 2006, p. 260).

No entanto, podemo-nos perguntar: onde não existe o amor recíproco, onde está Jesus? Onde se sente o abandono de Deus, faz sentido a presença de Jesus? Por outro lado, se está sempre connosco até ao fim dos tempos (Mt 28, 20), onde está Ele quando não se vê o efeito da suposta omnipresença? De que forma pode Jesus estar presente quando não existe o amor recíproco? Na dor, no sofrimento e na morte, onde está Jesus? Em que momento terá Jesus sofrido mais? Uns dirão “no monte das oliveiras onde suou sangue e água”, mas não. O momento em que Ele sofreu mais foi quando sentiu o abandono do Pai e grita com as primeiras palavras do Salmo 22: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” (ver Mc 15, 34). Jürgen Moltmann explica que «a teologia Cristã encontra a sua relevância na esperança, pensada em profundidade e posta em prática, no reino do Cristo crucificado, sofrendo nos “sofrimentos do tempo presente”, e faz do gemer das dores de parto da criação o seu próprio grito por Deus e pela liberdade. …Se alguém se identificar com ele …. [o] Cristo crucificado torna-se irmão do desprezado, abandonado e oprimido. …A identificação Cristã com o Cristo crucificado significa a solidariedade para com os sofrimentos dos pobres e a miséria dos oprimidos e dos opressores. …se esta solidariedade for seriamente aceite, no desapego e sem reservas, é em si mesma uma identificação com aquele que foi crucificado e ‘se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza’ (2 Cor 8, 9). … A identificação Cristã com o crucificado leva-o, necessariamente, a ser solidário com os alienados deste mundo, com os desumanizados … a identificação do Cristo crucificado com os abandonados, aceita o sofrimento do amor criativo…» (J. Moltmann, The Crucified God, Fortress Press, 1993, pp. 24-25) Ou seja, a novidade do abandono de Jesus na cruz, nos tempos modernos, é dar rosto à dor, ao sofrimento e à morte. Mesmo aquele que experimenta a ausência de Deus, como o ateu, pode identificar-se com Jesus abandonado que experimenta naquele grito essa mesma ausência. Gérard Rossé refere que «Jesus no abandono é provavelmente, de modo especial, o Deus da nossa época, uma época na qual as guerras, os campos de concentração, idealogias totalitárias e tantos outros factores parecem gritar em todo o lado que Deus está morto. … Mais do que nunca, o homem de hoje pode identificar-se com o vulto de Cristo na cruz, abandonado pelo seu Deus» (G. Rossé, Il grido di Gesù in croce, Città Nuova, 1996, pp. 137-138). Com grande profundidade, Chiara Lubich expressa-se dizendo que «Jesus abandonado experimentou em Si, e assumiu em Si, o não-ser das criaturas, separadas da fonte do ser: tomando sobre Si mesmo a “vaidade das vaidades” (Ecl 1, 2). Ele fez seu – por amor – este não-ser que podemos chamar de negativo e o transformou em Si mesmo, naquele não-ser positivo que é Amor, como o revela a ressurreição. Jesus abandonado espalhou o Espírito Santo pela criação, tornando-se assim “mãe” da nova criação» (C. Lubich, La Dottrina Spirituale, Oscar Saggi Mondadori, 2006, pp.259).

Onde está então Jesus na ausência do amor recíproco que o torna presente? Está no rosto de Jesus Abandonado que vemos na dor, sofrimento e morte. Ao identificá-lo temos uma oportunidade de O amar nessa dor, sofrimento ou morte, e assim aquilo que “é” negativo, “torna-se” positivo nesse amor a Jesus abandonado. Esta é uma realidade a aprofundar e onde poderemos encontrar respostas para muitas outras questões difíceis do nosso tempo …