Jesus está vivo de forma carnal?
É uma pergunta difícil porque a Ressurreição em Jesus assume contornos “misteriosos”, biologica e teologicamente, que Deus nos revela como parte da emergência de novidade num universo em evolução, e que ainda não compreendemos totalmente. É muito mais fácil dizer que Jesus “não” está vivo de forma carnal, uma vez que nós, ao morrermos, somos depositados na terra e consumidos por ela. Se Jesus era verdadeiramente homem, é fácil pensar que foi isso que terá acontecido e que a ressurreição não passa de uma experiência subjectiva dos apóstolos. A verdade é que as experiências tidas posteriormente à morte de Jesus mostram que a sua ressurreição foi algo de inesperado, pleno de novidade, eu diria, ao mesmo nível que é inesperada a emergência da vida no universo. Logo, a dificuldade que vejo na pergunta é saber, no quadro da “nova criação” com a morte e ressurreição de Jesus, o que se entende por carne. Será uma estrutura molecular? Será outra coisa? Acho que a ciência tem aqui um papel fundamental. O cientista é suficientemente humilde para afirmar o carácter provisional e imperfeito das leis que formula, e que providenciam uma descrição parcial da realidade. Por outro lado, as leis da natureza possuem um ponto de vista mais alargado, o dos relacionamentos, processos e conexões causais no interior do próprio mundo natural. Alguns desses pontos de vista podem escapar ainda às teorias. Senão, vejamos, enquanto não houve a “primeira” supernova e a formação do “primeiro” planeta, não havia sequer possibilidade causal de haver vida. E mesmo hoje, a sua improbabilidade é reconhecida pela comunidade científica. Logo, da mesma forma diria que “Jesus está vivo”, mas não sei de que forma carnal, pois, no quadro na “nova criação” que Deus realizou com a Ressurreição de Jesus, será que ainda sei o que se entende por “carne”?