Como encara a impossibilidade lógica das várias religiões poderem ser simultaneamente uma verdade objectiva (que advém das crenças mutuamente contraditórias das várias religiões)?
Tal como acontece em ciência, é possível definir verdades objectivas, aparentemente contraditórias, a partir de visões diferentes sobre a mesma realidade, como aconteceu, por exemplo, com a dualidade onda/partícula. Como a religião é algo que depende do contexto cultural, todos os encontros inter-religiosos que vemos acontecer pelo mundo inteiro aspiram à procura de uma quadro cultural comum, onde cada religião mantém a sua unidade, mas encontra-se a si mesma noutra religião. Ou seja, caminhamos para a unidade na diversidade. Sem pretender com este argumento expressar qualquer intenção de absolutismo paradigmático, podemos ver em Deus-Trindade esse paradigma (a descobrir em maior profundidade), ou seja, a unidade de um só Deus, na diversidade de três pessoas-em-comunhão. Uma manifestação mais humana deste novo paradigma cultural centrado na realidade da comunhão, onde se enquadra o diálogo inter-religioso, é a realidade da Fraternidade Universal, onde os seres humanos se encontram como espécie nas relações que se estabelecem, em vez de primarem pelos aspectos individuais. Logo, a minha opinião não é que se trata de uma “impossibilidade lógica”, mas de uma “possibilidade cultural”.