Smartphone vs Deus

Podem pensar que estou a ser demasiado radical, mas talvez esteja antes a ser realista. Os nossos smartphones estão a consumir exacerbadas quantidades de atenção, e nem sequer nos damos conta disso.

Sherry Turkle é professora no MIT e escreveu um livro sobre o potencial das conversas numa era digital ( Reclaiming Conversation: The Power of Talk in a Digital Age). Nesse afirma que o simples facto de colocar o smartphone sobre a mesa quando duas pessoas estão a conversar torna essa conversa mais trivial e menos envolvente. Diz Turkle que ”o telemóvel simboliza que podemos ser interrompidos a qualquer momento”. Daí que a tendência seja para que os tópicos das conversas se tornem cada vez mais banais onde qualquer interrupção não produz consequências.

De facto, tenho notado isso e, por essa razão, há anos que tenho o smartphone em modo silêncio, e durante anos treinei também a gestão da minha reação quando esse vibra. Uma vez chegou ao ponto da outra pessoa com quem falava ficar mais distraída do que eu.

Consumo de atenção nos detalhes

Actualmente com todas as notificações de WhatsApp, Facebook, Twitter e outros alertas, a capacidade que têm de captar a nossa atenção é equivalente a pegar nesse para o usar. Afirmou um estudo da Universidade Estatal da Florida que mesmo pequenas notificações ”podem impulsionar pensamentos de tarefas irrelevantes, devaneios mentais, que têm sido demonstrados danificarem o nosso desempenho.”

Nunca te aconteceu levar a mão ao bolso a pensar que o telemóvel está a vibrar e nem sequer tens o telemóvel no bolso? Se te aconteceu, sei o que é e passo ocasionalmente por isso. Se não, dá-te por feliz e mantém-te assim.

Ainda se consegue escutar Deus?

Consegues perceber as implicações destes acontecimentos para áreas mais profundas da tua vida como a espiritual?

Hoje, a atenção captada por um smartphone compete com o espaço que antes tinha o nosso nome quando o ouvíamos e voltávamos a cabeça para ver quem o tinha usado. Isso significa que começa a competir também com o espaço de silêncio interior que permite escutar a voz de Deus.

Temo que no futuro não saibamos sequer o que isso é, e nem sequer nos demos conta de como nos tornámos zombies espirituais que vão à missa, ou celebração religiosa, por preceito, mas sem capacidade de encetar em diálogos profundos, interiores e transformadores porque, simplesmente, andamos demasiado distraídos.

Depois, levamos, sistematicamente, a mão ao bolso para ver se vibra, quando podíamos estar mais atentos ao “vibrar” do coração quando interpelado por Deus. E quando se ouve um toque de telemóvel durante a missa. Antes era vergonhoso. Hoje, poucos ligam, e vejo o desespero nas pessoas ao querer calar o “bicho”, desconhecendo como fazê-lo.

A solução é simples. Não leve o telemóvel para a missa. – “Então, e se alguém me telefona?” Ao que pensaria… e? Quando chegar a casa basta ver se alguém telefonou. Eu sei. É complicado. Será que Deus ainda tem interesse, sobretudo momentos de encontro profundo com Ele, como a missa?

Smartphone em casa

Tempo de acordar

O que fazer?

Experimenta começar por colocar o smartphone em modo de voo.

Não te preocupes se te vão ligar ou não.

Liberta-te antecipadamente da culpa de não teres atendido uma chamada importante.

Dá espaço à profundidade na tua vida. Ao silêncio. À escuta da voz interior.

Não cedas à tirania das distracções e reclama o controlo sobre a tua atenção.

Acorda.