Neste excelente vídeo do P. Barron, entre diversos pontos interessantes, saliento:
- o ateísmo capta alguma coisa sobre Deus, e por isso, expressa alguma verdade sobre Deus, nomeadamente que Ele é incognoscível;
- O Ser e a Liberdade de Deus não competem com o nosso ser e liberdade, mas pelo contrário.
Partilho-o como expressão pelo profundo respeito que tenho pelos meus interlocutores ateus na blogosfera – o Ludwig, o João Vasco, o Francisco Burnay, o Barba Rija, o Joao, o Bruce Lóse – que nos últimos dias temos procurado dialogar sobre o sofrimento e a omnipotência de Deus.
Miguel,
Eu penso que aqui, como muitas vezes acontece, os crentes não percebem o fundamental do ateísmo.
Imagina que eu te descrevo em detalhe o grande Zundar de Antares IV. Digo como é o palácio dele, que roupas veste, como cavalga no seu Xintrubar de duas cabeças, e como manda raios de Nessorium quando se irrita.
Tu apontas que eu não posso saber estas coisas e que isto é um disparate. E eu respondo que achas que é um disparate porque não tens a minha concepção do grande Zundar de Antares IV. Isso é, como dizem os ingleses, missing the point.
Nós não estamos a discutir nem o teu deus, nem o deus dos evangélicos, dos muçulmanos, dos judeus, dos hindus, etc. Estamos a discutir a legitimidade de fazer afirmações factuais acerca daquilo que não sabem.
O ponto fundamental é que tu não tens dados que legitimem alegares saber que alguém criou o universo, transubstancia a hóstia, engravidou Maria, inspirou a bíblia e assim por diante. E, sem isso, tudo o que disseres acerca desse alegado criador é pura especulação sem qualquer valor epistémico.
Aquilo que vocês, crentes, chamam de ateísmo é a constatação desse problema. Nem sequer chega a ser acerca de nenhum deus em particular. É acerca da ilegitimidade epistémica das afirmações que fazem sobre os deuses.
um vigário sem prova de representação… será melhor do que um vigarista?
Caro Ludwig,
eu não apontaria como disparate que tu poderias ou não saber alguma acerca de um deus com características mitológicas. Mas certamente que esse deus difere do Deus em quem acredito, pois seria um ser entre outros seres, porém, também nessa forma de entender quem é Deus vejo uma semente de verdade sobre Aquele em quem acredito, pois um deus presente no mundo reflecte a sensibilidade à imanência de Deus no mundo, como afirma o P. Barron a um dado momento.
Para aferir a legitimidade daquilo que sabemos acerca de Deus, a teologia Cristã é muito clara ao afirmar que directamente não é possível, apenas indirectamente, o que implica sabermos sempre muito pouco ou de forma imprecisa. É por isso que se desenvolveram disciplinas ligadas à teologia como a hermenêutica, a exegese, e diversos ramos como a teologia sistemática, da revelação, etc, bem como as vias apofáticas e catafáticas que abordar a questão sobre quem é Deus. Seria ingénuo pensar que a reflexão sobre estas matérias é uma novidade emergente do ateísmo ou que o património de pensamento por elas desenvolvido não é milenar, quando, de facto, é.
O ateísmo constata precisamente isso mesmo, não podemos chegar a Deus (o que quer que isso signifique) directamente, pois de Deus sabemos muito pouco ou quase nada. Segundo uma visão materialista chega-se à mesma conclusão de incognoscibilidade. Porém, a diferença está em que o ateísmo fica por aí, enquanto o crente, naturalmente, procura ir mais longe na fundamentação da sua fé com a experiência de vida e o conhecimento dessa experiência, do mundo e do pensamento filosófico-teológico.
A constatação ateísta da ilegitimidade epistémica só ocorre por via do reducionismo epistemológico do qual padece. O que importa aqui salientar é que, por via desse reducionionismo, acaba por ser uma semente de verdade sobre quem é Deus que não se deve menosprezar como muitos crentes, infelizmente, o fazem …
Abraço
Caro Anónimo,
qual a prova que prova que um vigário não tem prova de representação?
Caro Miguel,
Quando se solicita a prova e o vigário nada tem para mostrar…
Só num mundo de fantasia, irreal é que o vigário não exibe as provas que tem… exibem “o corpo de Cristo” “casam em nome de Deus” mas provas…
Caro Anónimo,
que tipo de prova mostraria para ti?
Ex 4,1-9
Mas os sábios poderão ponderar a veracidade…
Ex 7,8-13
mas outras tabém servem:
Ex 7,14-24 …
enquanto o crente, naturalmente, procura ir mais longe na fundamentação da sua fé com a experiência de vida e o conhecimento dessa experiência, do mundo e do pensamento filosófico-teológico.
Desculpem estar a meter-me na conversa.
Considerando que Deus realmente existe, parece-me lógico ir encontrando as tais evidências para a sua existência.
Poder-se-ia argumentar que a cosmologia ou mecânica quantica funcionam de forma idêntica. Primeiro formula-se uma hipótese e depois vai-se à procura (existem milhares de artigos sobre teorias de tempo, espaço, cordas, campos, etc)
Mas é uma forma de pensar perigosa. Não se pode assumir à partida que uma teoria sobre Deus está correcta e depois “ir encontrando” o que a justifique. O que distingue de astrologia, homeopatia ou criacionismo de terra jovem?
(todos estes têm evidências para as suas teorias)
Caro nmhdias,
acho excelente o contributo que pretendes dar à conversa com a questão que colocas.
Eu penso que os exemplos que dás da teoria da relatividade, ligada à cosmologia, ou até a mecânica quântica mostram uma nova abordagem ao problema científico com implicações filosóficas sérias. Enquanto que antes experimentávamos e depois teorizávamos. Com Galileu passámos a teorizar antes de ter um resultado experimental.
Assim, não me parece de todo incorrecto assumir um certo conceito de Deus e depois procurar a veracidade desse conceito. Assim como, haver uma experiência de vida clara de Deus e depois procurar qual o conceito que a permite entender.
A demonstração que o conceito de Deus é uma fonte inesgotável de investigação está precisamente no contributo que o ateísmo expressa ao colocar Deus em questão: a Sua incognoscibilidade.
Não quero com isto dizer que não há espaço para a astrologia, homeopatia ou o criacionismo. Aliás, considero que o diálogo entre ciência e fé possui a capacidade de avaliar as questões que essas áreas pretendem demonstrar e verifica-se que muitas vezes não têm sustentabilidade científico-natural ou teológica.