O nosso planeta é um no meio de 8 no sistema solar. O nosso sol é um nos 100 000 milhões na nossa galáxia. A nossa galáxia é uma nas 100 000 milhões que se prevê haver no Universo. Por que razão se manifestou Deus a nós, literalmente, uma ínfima parte na vastidão do Universo?
Lembro-me quando era mais novo e olhava para o céu estrelado, de imaginar o meu tamanho em relação ao do universo e sentir um aperto no peito porque um pensamento sobre a sensação de imensidão deixava-me sem palavras. Apenas deslumbramento.
Na encarnação de Deus em Jesus está tanta coisa em jogo que nos parece inacreditável. A transformação do cosmos na qual acreditamos, diante da nossa pequenez, parece irrealista. Um Deus que cria a vastidão do cosmos dar-Se a comer na Eucaristia parece um absurdo. As implicações são de tal modo para além de tudo o que é concebível pela nossa inteligência que a resistência a aceitar estes exemplo como parte da realidade que nos anima é incomensurável.
Porém, um virus não precisa de ser grande para nos fazer muito doentes. A probabilidade não precisa de ser muito elevada para que haja vida. Qualquer evento no mundo assenta em acontecimentos ínfimos (decisões, contingências, etc.) invisíveis e imperceptíveis, em alguns casos, aos nossos olhos. O infinitamente grande assenta no infinitamente pequeno e será mais fácil ao pequeno afectar significativamente o grande que o contrário.
Resistência, a inimiga da profundidade
Crer em Deus é a maior fonte de resistência que temos para conhecer a realidade na sua totalidade. A nossa crença assenta no absurdo e no paradoxo. A lógica relacional desafia a lógica racional. O desconforto é grande. Mas faz parte.
Por alguma razão, ao acolhermos o que é espiritual, absurdo, paradoxal e desconfortável fazemos uma experiência radical de sentido e significado na nossa vida que marca profundamente a visão que temos do mundo.
És pó das estrelas, mas também Jesus o foi.
És um grão de poeira cósmica, mas capaz de reflectir e vislumbrar os confins do Universo.
Não há consciência espiritual sem que seja colectiva e experiencial.
O universo é vasto e vazio, mas é a vastidão do vazio espiritual ao meu redor que me mete medo.
Não é o facto de sermos ínfimos que nos impede de ser profundos. E se Deus se manifestou na nossa pequenez, isso quer dizer muito. Se investires nas pequenas coisas não fazes mais do que Deus já fez e deu testemunho. O que pode impedir de seres grande não é consciência de ser pequeno, mas a resistência a uma mente aberta.
É mais fácil começar uma guerra ideológica do que pintar um acto de fé diante da tela branca da tua existência.
Questão: se és um grão de poeira cósmica, qual o sentido da tua existência?