Numa troca de comentários sobre um artigo que escrevi para a Ecclesia, um amigo ateu perguntou-me qual o método para fazer a vontade de Deus e como podemos saber se algo é, ou não, vontade de Deus. Questão genuína?
Bom. Penso que a questão seja importante, mas não sei se foi genuína. Por vezes as nossas dúvidas são suscitadas pela falta de experiência que temos e, em vez de procurar fazer essa experiência, sabendo que se produzir algum efeito em nós só pode ser bom, permanecemos indefinidamente nas questões até “provar” que qualquer experiência de natureza espiritual é fictícia porque não tem qualquer método. A descrença provém da recusa da experiência suscitada pela dúvida, não da dúvida em si mesma. E uma vez que passamos da dúvida à descrença, dificilmente voltamos a beneficiar do poder intelectivo da dúvida. Qual, então, o método?
O método para fazer a vontade de Deus é amar no momento presente. Simples.
Como disse Santo Agostinho “ama e faz o que quiseres.” Porém, nem sempre temos a mesma noção do que quer dizer amar. Apesar das muitas definições que podemos encontrar para o que seja amar, a que mais se identifica com a minha experiência é: amar é dar-se.
Quando amas queres o bem do outro ao modo do outro, não ao teu. E reconheces o bem ao modo do outro se ele abraçar a vida e for feliz. O bem ao modo do outro fortalece e aprofunda o nosso relacionamento com ele. Esta é a minha experiência. Mas não é uma receita.
Depois, amar no momento presente implica fazer bem aquilo que é suposto fazermos em cada momento. E se formos interrompidos, é o próprio momento presente que se manifesta e ajustamos o que temos para fazer para ir ao seu encontro.
Por que razão o fazemos? Por amor.
Querendo o bem, a beleza e a verdade. E, assim, faremos a vontade de Deus. Aliás, arrisco dizer que amar é tudo o que Deus nos pede com a Sua vontade. Nada mais. Nada menos. Depois, a melodia que o amar toca, ou a cor que dá ao que fazemos, possui infinitas tonalidades, daí que não haja receitas.
O único modo de compreender este método e aferir se nos leva a fazer a vontade de Deus, ou não, é aplicá-lo na nossa vida. Experimentar fazer cada coisa que é suposto fazermos: por amor.
Não por obrigação, ainda que tenhamos essa obrigação.
Não por dever, ainda que devamos.
Perguntar a cada momento se o que estou a fazer, o faço… por amor.
Por mais raciocínios que façamos porque queremos compreender o método antes de o aplicar, de modo a assegurar que me permite, realmente, aferir o que é, e não é, a vontade de Deus, corremos o risco de ser levados pela espiral de um tempo circular que nos impede de sair do lugar. Faz-me lembrar aqueles cães tão fascinados com a própria cauda que se movem em círculos sem ir a lado algum.
Se queres compreender o método, aplica-o.