No post sobre o termo “espiritual” empreguei, o melhor que pude (reconhecendo as minhas limitações para o fazer) um discurso filosófico resultante de uma interacção entre conhecimento científico e uma linguagem proveniente da espiritualidade Cristã. Muitos confundiram os meus argumentos com uma justificação científica para o que é espiritual. Os comentários no post de resposta do Ludwig foram todos nesse sentido, preferindo acusar de erro científico, em vez de reconhecer que o argumento não era de ídole científica. Como tenho por hábito ser (metaforicamente) peça de um puzzle maior, partilho as impressões do teólogo John Haught sobre a postura que muitos assumem sem o reconhecerm ou justificarem: naturalismo científico. Diz-nos Haught:

«Uma teologia da natureza (…) deve fazer mais do que procurar o significado teológico das descobertas científicas. Deve também demonstrar que confiar no conteúdo da revelação pode realmente suportar a mente nesta procura pela verdade científica. (…)
É claro que argumentar pela verdade da revelação irá parecer fútil aos naturalistas científicos. Eles irão invariavelmente insistir que, em ordem a aceitá-la como verdade, a revelação deve ser independentemente verificável pela ciência.
Porém, a teologia possui uma boa razão para insistir que é a própria natureza da revelação que reside para além do espaço da certificação científica.
Inevitavelmente, os naturalistas científicos irão retorquir que isto é uma evasão, e continuarão a insistir mais uma vez que nada verdadeiramente real pode existir para além do potencial atingido pela ciência. Mas uma resposta justificável é a de que esta afirmação do cientismo, da parte dos naturalistas, não pode ser, por seu lado, confirmada cientificamente. É tanto matéria de crença como são as doutrinas religiosas.
A crença que a ciência é a única estrada fiável para a verdade reside, certamente, fora do espaço possível de verificação científica, por isso, dificilmente será também apropriado exigir que as crenças religiosas sejam cientificamente testáveis (ou falsificáveis). (…)
Nós podemos estar conscientes de ser alvo do mistério de Deus que se auto-revela, e podemos falar acerca deste mistério de um modo simbólico ou metafórico quando partilhamos essa experiência uns com os outros. Mas não podemos sujeitá-la ao controlo experimental. Tentá-lo seria estar fora de qualquer relacionamento apropriado com essa. »

John F. Haught (2007) “Christianity and Science – toward a Theology of Nature”, Orbis Books, pp. 178-179