Este excerto do livro de Tomas Halik (Paciência com Deus, traduzido em português pelas Paulinas) recordou-me algumas conversações com alguns que se dizem agnósticos, ou mesmo ateus, e que exigem evidências objetivas – e bem – para que hipóteses de natureza teológicas possam ser testadas. Pois, se forem impossíveis de testar, então, são de descartar. Não sou desta opinião, mas enfim …

Qual é a evidência objetiva de que a luz existe quando não podemos observar a luz diretamente? Não!? Então se olhar para um candeeiro, não estou a observar a luz diretamente? Nem por isso. Vejo um filamento incandescente amarelo, ou um tubo que brilha no branco, mas em cada fonte de luz estão contidos diversos comprimentos de onda, logo, ainda que pareça estar a observar um desses, o que observo é antes o objeto por eles iluminado, não a luz em si mesma. Vejo o efeito da luz, não a luz em si mesma. Mas, e se usar um laser com um comprimento de luz bem definido. Ainda assim, se não houver partículas de poeira no ar, sou incapaz de visualizar essa luz. 

Como poderia ser diferente com Deus? Qualquer evidência objetiva de Deus, ou melhor, da sua acção, será sempre de natureza indireta. O problema aí pode ser apenas daqueles que se formatam a si mesmos num só tipo de evidência, de tal modo que procuram Deus em algo próximo dessa formatação, quando Ele está na proximidade em si mesma. Procuram evidências, quando Deus pode estar no evidenciar em si mesmo. Procuram hipóteses possíveis de testar, quando Deus pode estar no “hipotizar” em si mesmo.

Como diz Halik, e bem, nenhum de nós viu a sua face, senão num espelho. Assim, também não podemos observar a face de Deus, senão indiretamente. O desafio não está na forma de o fazer, mas em suplantar os pressupostos filosóficos que nos impedem disso.