«o livro dos Génesis indica-nos que o primeiro pensamento de Deus era encontrar um amor que responda ao seu amor.» (Bento XVI, Audiência Geral, 6/2/2013)

Quando pensamos no Universo e no Seu Criador (ou ausência de um), voltamo-nos essencialmente para uma explicação científica e parece-me excelente. Porquê? Porque a ciência é fruto da capacidade intrínseca do ser humano de ser curioso. Mas também procuramos pensar o sentido último da existência do Universo e aí procuramos uma explicação filosófica e parece-me excelente, mas ao pensar na existência ou não de um Criador, o pensamento tem necessariamente de ser teológico. É nesse nível de interpretação da realidade que se enquadra a frase de Bento XVI. Qualquer argumentação que pretende avaliar cientificamente uma afirmação teológica mistura alhos com bugalhos, ou quer meter duas meias na cabeça, i.e. não tem sentido nenhum. Posto isto, a frase do Papa é muito interessante porque Deus ama, e porque ama, cria. E como em Deus que é amor, amar é dom-total-de-si, esse implica reciprocidade, logo, o que é criado possui uma inclinação óbvia para responder a esse amor. Daí que 
«o segundo pensamento é criar um mundo material onde colocar este amor, estas criaturas que na liberdade lhe respondem.» (Bento XVI)
Por diversas vezes argumentei que a evolução é a resposta do mundo a este amor criador de Deus. Cheia de imperfeições porque o mundo é limitado às suas condições de possibilidade, mas é uma resposta na liberdade, e daí que faça sentido a contingência presente no mundo e que, de um modo geral se pode afirmar (do ponto de vista teológico) que
«a acção criativa de Deus comporta ordem, faz entrar a harmonia, dá beleza» (Bento XVI)
Mas não podemos esquecer a desordem, o caótico e o feio que existe também no mundo. Mas não se fez Deus-Filho desordem, caos e feio ao ser crucificado? Deus, aparentemente gosta de paradoxos, porque será? Muitos usam o contraponto daquilo que se considera acção de Deus para argumentar que talvez essa acção não exista, ou mesmo que Deus não exista … ou que existe, mas que se encontra em silêncio. Porque faz Deus silêncio perante o desordenado, caótico e feio do mundo? Porque fez Deus silêncio quando o Seu Filho gritou “Porque me abandonaste?” Quem sabe se não encontraremos a resposta na própria pergunta …