No número de Agosto de 2010 da Scientific American Magazine, o físico Lawrence Krauss publica um artigo intitulado «Fé e loucura: quando as crenças religiosas se tornam perigosas». Nesse assume uma postura de conflito entre ciência e religião e fá-lo com base em episódios seleccionados relativos ao criacionismo, extrapolando-os para a crença religiosa na generalidade.

Uma resposta a este artigo que me pareceu bem clara foi dada por Robert Mixa intitulada «Cultura: fé ou loucura?». Krauss confunde toda a religião ou abordagem de pensamento religioso com o do fundamentalismo Protestante, e sustenta a sua posição de conflito ciência-fé com base em dois exemplos: uma questão que fez a um representante da Academia Pontifícia para as Ciências sobre como reconciliava a visão razoável de ciência com as absurdas e injustas actividades da Igreja; e a excomunhão de uma freira por ter autorizado um aborto legal para salvar a vida de uma mãe. Krauss dissocia a ética da ciência, o que consiste num pressuposto filosófico. Curioso como são dois exemplos sobre o início de dois grandes Mistérios: o do universo e o da pessoa humana.

Krauss admira-se como nos Estados Unidos menos gente acredita na evolução e na teoria do Big Bang, relativamente a outros países e conclui «eu não sei qual é mais perigosa, se crenças religiosas que forçam algumas pessoas a escolher entre o conhecimento e o mito, ou se apontar como a religião pode fornecer a ignorância como tabu». Como alertou Robert Mixa, será que Krauss, físico teórico, se esqueceu que foi George Lemaître, padre jesuíta, que formulou a teoria do Big Bang? Se para Lemaître não havia conflito entre ciência e crença religiosa, não tendo sido qualquer impedimento para inovar extraordinariamente no campo científico, será lógico deduzir que a conclusão de Krauss depende apenas dos seus pressupostos filosóficos.

O caso bioético da escolha entre a vida da mãe e a do seu filho, que levou à excomunhão da irmã religiosa, apenas revela o desacordo entre Krauss e o bispo americano Olmstead sobre o conceito de pessoa humana. Porém, como alerta e bem Robert Mixa, esta não é uma questão científica, mas filosófica porque ética, ou até mesmo teológica, pelo que, mais uma vez, depende dos pressupostos filosóficos.

Pouco mais tenho a acrescentar ao que Robert Mixa já escreveu na resposta a Krauss, por isso, a minha questão é a seguinte: se o artigo de Lawrence Krauss depende tanto dos seus pressupostos filosóficos ateístas, e contém respostas pessoais a questões que não são científicas, porque razão foi publicado na Scientific American Magazine como se de um artigo contendo credibilidade científica se tratasse? Qual a capacidade da Scientific American Magazine aferir a sofisticação filosófica dos artigos que publica? No mínimo, na mesma revista, deveria haver outro artigo escrito por alguém cujos pressupostos filosóficos fossem diferentes, por exemplo, os de um diálogo mutuamente criativo entre ciência e fé.

A lição filosófica que tiro deste episódio não é questionar o perigo das crenças religiosas, mas das conclusões com base em pressupostos filosóficos, sem os explicitar, ou questionar, o que é – diga-se a verdade – muito pouco “científico” e universal …