O ano passado (2008) foi lançada a tradução portuguesa de um livro de Howard Gardner, psicólogo cognitivo e educacional da Universidade de Harvard, sobre quais a mentes que deveríamos desenvolver no futuro. São elas:
  • a mente disciplinada: o domínio das principais correntes de pensamento (incluindo ciências, matemática e história) e de pelo menos um ofício;
  • a mente sintetizadora: capacidade de integrar ideias de diferentes disciplinas ou esferas num todo coerente e comunicar essa integração a outras pessoas;
  • a mente criadora: capacidade de descobrir e esclarecer novos problemas, questões e fenómenos;
  • a mente respeitadora: consciência e compreensão das diferenças entre seres humanos;
  • a mente ética: cumprimento das responsabilidades de cada um enquanto trabalhador e cidadão;

Se pensarmos no diálogo entre fé e ciência verificamos que todas estas cinco mentes são indispensáveis.
 

Por exemplo, pode alguém ridicularizar a fé sem ter aprofundado o que na teologia se reflecte sobre Deus? Ou então, como pode alguém contradizer a ciência, sem ter aprofundado o suficiente sobre os recentes avanços científicos e pensa como se pensava no tempo de Newton? O exemplo que Howard Gardner dá de uma mente disciplinada é a do famoso maestro Arthur Rubinstein: “Quando eu não pratico por um dia, eu sei. Quando eu não pratico por dois dias, a orquestra sabe. Quando eu não pratico durante três dias, o mundo sabe.” Para desenvolver uma mente verdadeiramente disciplinada deveríamos estudar 2h de matéria nova por dia durante 10 anos. Aqui está um critério exigente, mas útil para nos ajudar a pensar primeiro antes de nos pronunciarmos levianamente sobre qualquer coisa.

Quanto à mente sintetizadora, diz-nos Gardner que “o vencedor do prémio Nobel da física Murray Gell-Mann afirmou que a mente mais a prémio no século XXI será a mente que sintetizar bem”. Perante a fragmentação do saber, onde facilmente nos podemos tornar especialistas de generalidades, uma mente sintetizadora responde com a unidade do saber. Como sintetizar o conhecimento científico com o saber teológico? Serão contraditórios, independentes um do outro, poderão-se integrar, ou dão uma visão fecunda da realidade no dialogar?

Quanto à mente criadora, se por um lado “uma criatividade indisciplinada é uma criatividade minada” (Gardner), por outro “algumas das melhores criações emergem das tentativas de sintetizar …; [e] uma síntese pode representar uma realização consideravelmente criativa” (Gardner). Que sabe a maioria de nós acerca das mais recentes sínteses entre o que a ciência nos esclarecer e a fé nos dá sentido? A criatividade no diálogo entre fé e ciência é maior do que aquela proveniente do conflito entre fé e ciência. Porque será assim? A falta de literatura traduzida é uma razão, mas haverão outras?

A mente respeitadora é essencial para cientistas serem teólogos, através dos teólogos, e teólogos serem cientistas, através dos cientistas, uma vez que no respeito mútuo pelos diferentes domínios encontram o espaço comum onde ambos procuram o mesmo e se unem: a procura da verdade. O fruto desta procura conjunta expressa uma unidade que distingue e uma distinção que une. A abordagem que o possibilita é a transdisciplinar.

Sobre a mente ética, diz-nos Gardner através de um exemplo que “os estudantes precisam de compreender porque aprendem o que aprendem e como pode esse conhecimento ser usado construtivamente. Como aprendizes disciplinados, é nosso dever compreender o mundo. Mas, para sermos seres humanos éticos, é também nosso o dever de usar esse conhecimento para melhorar a qualidade de vida e da vivência, e testemunhar quando esse conhecimento está a ser usado destrutivamente“. A qualidade de vida e de vivência melhoraria, especialmente dos dias que correm, com um diálogo construtivo entre fé e ciência?