Deus não viola as leis da natureza para realizar a Sua vontade, foi Ele que as criou. Deus age nos, com e através dos processos da natureza (Arthur Peacocke). Deus cria um mundo do nada (creatio ex nihilo) aberto à Sua acção permanente (creatio continua).

Uma abordagem proposta por Bob Russel é a Acção Divina Objectiva Não-Intervencionista (ADONAI[1]) definindo-a como uma «abertura inerente nos próprios processos evolucionários onde Deus pode agir. Não é o argumento das “lacunas” uma vez que Deus não está a intervir na evolução; antes, Deus está já imanente na natureza como Trindade, agindo dentro da abertura com a qual dotou o universo quando o criou.»

Uma vez Chiara Lubich (fundadora do Movimento dos Focolares) disse que «Deus amou e, por isso, criou», não poderemos então pensar que o mundo quis responder a esse amor e, por isso, evoluiu? Karl Schmitz-Moormann e James Salmon SJ dizem que «o chamamento de amor de Deus pode (…) ser considerado a força motriz da criação e, por isso, da evolução.»[2]

No universo tudo está em relação de amor com tudo, cada coisa com cada coisa. Se Deus cria, amando. Se a vida em Deus-Trindade é trinitária e, por isso, vivida na mais íntima relacionalidade. A acção de Deus é sempre de um amor relacional que gera relacionamentos, logo, não é de admirar que uma forma de interpretar como Deus age num mundo em evolução, em diálogo com a ciência seria: através dos relacionamentos.

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[1] Que, curiosamente em hebraico, significa “meu Senhor”.
[2] Que sinais podemos então ver nos avanços mais recentes do conhecimento científico que possamos interpretar como marcas de Deus-Trindade na criação? Existem três: a complexidade e auto-organização; o conceito de informação; a teoria de níveis da Realidade. Na teoria da complexidade, em sistemas de auto-organização, a desordem num determinado nível pode levar à ordem num nível superior, ou seja, o todo não consiste na soma das partes, mas é algo novo, emergente. Neste caso, o acaso num nível leva à emergência de padrões dinâmicos noutro nível. Informação é um padrão ordenado de entre os muitos possíveis; é comunicada a outro sistema; quando descodificada depende do contexto que a interpreta (ADN) e; parece transcender a materialidade por ser cada mais e cada vez menos limitada materialmente. A informação é como o fio que conduz a materialidade à espiritualidade. A teoria de níveis de Realidade pretende eliminar a fragmentação do conhecimento. Reparem, reduzindo ciência e religião ao mesmo nível leva a contradições como vimos no modo ‘conflito’, por isso é preciso um ‘meio incluído’. « De modo a obter uma imagem clara do significado do ‘meio incluído’, representemos os três termos da nova lógica – A, não-A e T – e a dinâmica a eles associada, por um triângulo no qual um dos vértices está situado num nível da Realidade e os outros dois vértices num outro nível da Realidade. O ‘meio incluído’ é, de facto, um terceiro incluído. Se se permanece num só nível da Realidade, toda a manifestação aparece como uma luta entre dois elementos contraditórios. A terceira dinâmica, a do estado ‘T’, é exercitada num outro nível da Realidade, onde aquilo que aparece desunido está, de facto, unido, e aquilo que aparece contraditório é percebido como não-contraditório. Por outras palavras, a acção da lógica do ‘meio incluído’ nos diferentes níveis da Realidade é capaz de explorar a estrutura aberta da unidade entre os níveis da Realidade.» (Basarab Nicolescu). Como podemos ver sinais de Deus-Trindade na complexidade, no conceito de informação e na teoria de níveis da Realidade? Através da sua marca na Criação: a relacionalidade.