Recentemente num debate com o meu companheiro de pensamento crítico Ludwig Krippahl, surgiu a questão levantada por ele de que hipóteses impossíveis de testar no âmbito de um método, como o teológico, são razão necessária e suficiente para descartar o método.  Deu como exemplo a hipótese de Deus-Trindade. Porque razão são três pessoas e não uma, duas ou quarto? É claro que o método teológico, através da hermenêutica, exegése, revelação, etc … procura elucidar esse e muitos outros aspectos em relação a afirmações de fé., mas como a hipótese é impossível de testar, o método é inválido. Justifica afirmando que o problema argumentado é o de que, sendo impossível de testar, “nunca haverá fundamento para concluir que tens mais razão do que quem disser” que alguma das hipóteses colocadas se aproxima mais da realidade do que outras. A testabilidade das hipóteses define a validade do método. Discordo.

Eu creio que o problema é outro: o de pensar que isso é um problema. 

Vejamos um exemplo no âmbito científico. O cosmólogo Christof Wetterich divulgou um trabalho recente de uma teoria alternativa à expansão do universo, justificada atualmente pelo desvio para o vermelho no espectro de frequências que medimos associado às galáxias. Diz ele que o Universo não tem andado a expandir, mas antes que a massa tem aumentado. Isso justificaria as observações espectrais desviadas para o vermelho.

O problema

A ideia é plausível, mas não pode ser testada. 

No contexto cosmológico, a massa é uma quantidade dimensional medida em relação a outra de referência, como o kilograma que está no IBWM em Paris. Mas se a massa de tudo – incluindo a desse kg – tem aumentado com o tempo, caso esta teoria se verificasse correta, não haveria forma de o saber.

A vantagem

A interpretação seria útil para pensar acerca de modelos cosmológicos diferentes. Por exemplo, Wetterich argumenta que seria uma vantagem desfazermo-nos da singularidade no Big Bang (t=0, onde os modelos deixam de ser válidos). Embora uns não estejam convencidos desta abordagem, reconhecem estar matematicamente consistente, e outros pensam que haver alternativas é sempre positivo para o maior desenvolvimento da ciência cosmológica.

O que penso

O argumento de alguns, como Ludwig Krippahl, de que: se as proposições formuladas no âmbito de um determinado método são impossíveis de testar, então, esse método deve ser descartado é inválido. Pois, em rigor, perante este exemplo, o método científico deveria ser descartado. Isto mostra a fragilidade epistemológica de uma postura como esta de reducionismo metodológico. Essa, sim, é descartável.

Qualquer hipótese “impossível” de ser testada (hoje), pode ser estudada. O mesmo acontece com as proposições no âmbito das afirmações da fé. Aliás, é precisamente a fé, como confiança na inteligibilidade inerente à realidade, que nos move em direção a um conhecimento mais aprofundado. A fé abre a mente do curioso ao desconhecido, de modo a que um dia possa ser conhecido. É o tal “worth trying” que motiva cosmólogos a desafiar o conhecimento atual, mas comum também em âmbitos diferentes dos associados às ciências naturais, abrangendo as humanas, onde poderíamos incluir a teologia.