Alguns não-crentes descartam qualquer método em teologia quando comparado com o método científico e os resultados que este produz. Assentam a sua argumentação no facto de, em teologia, só se considerarem dogmas como hipóteses dadas como certas, sem necessidade de fundamentação; além de serem afirmadas ideias vagas com base na fé para com uma Verdade última. Assim, esse método é visto como uma composição de 3 passos principais: 1) perceber a pergunta; 2) formular cuidadosamente a hipótese; 3) pronunciar a conclusão como verdadeira. Ainda, o problema principal do método teológico é que assenta fundamentalmente numa decisão subjetiva pessoal, com base na preferência religiosa de cada um, pois, o conhecimento é algo que exige um fundamento objectivo, no sentido de não depender de que sujeito se trata, de modo a que possa haver convergência dos vários pontos de vista para aquele que corresponde à realidade que subjaz aos factos.
Reducionismos?

O primeiro desafio que é colocado a este tipo de postura é o reducionismo metodológico. Neste caso, o de considerar que apenas o método científico é a forma de produzir conhecimento. Isto manifesta uma opção filosófica de que todas as questões sobre o mundo são de natureza científica e, consequentemente, isto corresponde a uma visão muito limitada do mundo. Por exemplo, se perguntar “como se afere cientificamente que apenas o método científico é aquele capaz de produzir conhecimento?” Sem uma ideologia na base, como seria a de um cientismo materialista, até então, não me foi dada qualquer resposta satisfatória. Talvez porque não haja.
Dogmas não necessitam de fundamentação?

Se os dogmas não necessitassem de fundamentação porque razão haveria uma disciplina de teologia dogmática em cursos universitários de teologia? Se não fosse necessário fundamentar o que é dogmático, porque razão se encontra tão estruturado aquilo que é considerado objeto de estudo na teologia dogmática católica?
3 passos no método teológico … só?

Bernard Lonergan escreveu no seu “Método em Teologia” que um processo de investigação em teologia compõe-se de diversas fases, sendo cada uma uma especialização funcional que distingue e separa as fases sucessivas desde os dados até aos resultados. Propõe oito especializações funcionais: 
  1. investigação; 
  2. interpretação; 
  3. história; 
  4. dialética; 
  5. fundamentações; 
  6. doutrinas; 
  7. sistemática e; 
  8. comunicações.
1) investigação: torna disponível os dados relevantes para a investigação teológica (textos, imagens, símbolos, inscrições, etc);
2) interpretação: procura interpretar para compreender os dados relevantes obtidos na investigação (e.g. qual o significado de um texto no contexto histórico próprio, à luz das circunstâncias e intenção do autor);
3) história: divide-se em básica (onde, quando, quem, o quê), especial (movimentos culturais, institucionais, doutrinais, neste último inclui-se a matemática, ciências naturais e humanas, filosofia, etc), geral (idealmente expressa a informação, compreensão, juízo e avaliação do historiador, em relação à soma dos movimentos cultural, institucional e doutrinal no seu cenário concreto);
4) dialética: assim como a ciência empírica pretende uma explicação completa de todos os fenómenos, a dialética pretende obter um ponto de vista compreensivo entre conflituais);
5) fundamentações: apresenta, não doutrinas, mas o horizonte no qual o seu significado pode ser apreendido;
6) doutrinas: juízos de facto e de valor que se encontram no horizonte das fundamentações, com definição precisa na dialética, clarificadas e desenvolvidas pela história e fundamentadas na interpretação de dados próprios à teologia;
7) sistemática: desenvolver sistemas apropriados de concetualização, remoção de aparentes inconsistências, e mover o método no sentido da apreensão de matérias espirituais a partir na sua coerência interior, bem como das analogias oferecidas pela familiar experiência humana;
8) comunicações: interdisciplinares; transposições para a identidade religiosa; e adequada adaptação dos resultados aos diversos meios de comunicação disponíveis num determinado tempo e espaço.
E isto é apenas uma pequena parte do que é o método em teologia, mas suficiente para demonstrar ser distinto do científico e via para o conhecimento, embora de natureza diferente daquele que é tido em conta no método científico, o que não é novidade.
Conhecimento independente do sujeito?

Isso não existe. A aplicação de um conhecimento desenvolvido pode ser universal, mas o seu desenvolvimento depende da pessoa que o desenvolve. Dirão, mas se fosse outro a formular a lei da gravitação universal de Newton, essa seria formulada de forma diferente? Não é dessa independência que se trata, mas da paixão heurística característica de cada sujeito, tão única quanto único o sujeito. O problema de se argumentar pelo conhecimento independente em ciência, contrário ao teológico, é um dualismo que separa sujeito de objeto, quando a forma como o sujeito aborda um objeto, não depende do objeto, mas do sujeito. Assim, a forma de suplantar esse dualismo é acabar com ele e pensar na tríade entre sujeito, objeto e relação entre ambos.

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Se Deus é objeto de tantos posts de ateus que, supostamente, não acreditam em Deus, porque lhe dedicam tempo? Não é que pensar em Deus (como fazem tanto os ateus) implica a sua conversão à sua existência, mas antes que existe uma procura interior que os leva a questionar, e não tendo “Deus” com quem confrontar, confrontam e interpelam aqueles que n’Ele acreditam. Porém, essa procura interior não é mais do que o desejo de conhecer. Mas ao recusar a teologia como método de conhecimento, encontram o vazio solipsista do cientismo positivista, e tudo “não passa da cepa torta”. Creio que uma maior abertura ao método teológico, como em Ludwig Feuerbach, seria bem mais útil a crentes e não-crentes. O mesmo vale para os que se fecham sobre o método teológico, da mesmo forma que uns fazem com o método científico.