São estas as palavras de Ratzinger numa magnífica entrevista publicada sobre o título do livro da editora Pedra Angular “Existe Deus?”

Deste debate marcante entre o Cardeal Joseph Ratzinger (Bento XVI) e Paolo Flores d’Arcais, cito um excerto que sublinhei e que mostra a não-trivialidade das imagens que actualmente se podem ter de Deus a necessitar de revisão (as palavras a bold são da minha parte). Bem interpretadas as palavras deste excerto se entende (quer se concorde ou não) a ausência de sentido e significado de querer provar cientificamente a existência de Deus, e de como Deus não é um Deus silencioso.

«A união da racionalidade e da fé, que se realizou no desenvolvimento da missão cristã e na construção da teologia cristã, trouxe igualmente consigo correcções decisivas na imagem filosófica de Deus, das quais é conveniente destacar duas em particular.

A primeira (…) Deus é Deus por sua natureza, mas a natureza como tal não é Deus. Cria-se uma separação entre a natureza universal e o Ser que a funda, que lhe dá origem. Só então a física e a metafísica chegam a uma clara distinção entre si. Só o verdadeiro Deus que podemos reconhecer, mediante o pensamento, na natureza é objecto de oração. Mas Ele é mais do que a natureza. Precede-a, e ela é criatura sua.

segunda (…) o Deus que precede a natureza voltou-se para os homens. Justamente por não ser só natureza, não é um Deus silencioso. Entrou na história, veio ao encontro do homem e, deste modo, o homem pode encontrar-se com Ele. Pode unir-se a Deus, porque Deus se uniu ao homem. (…)

A racionalidade pode tornar-se religião, porque o próprio Deus da racionalidade entrou na religião. (…) a Palavra histórica de Deus, é efectivamente o pressuposto (…) que já não é um Deus puramente filosófico e que nem sequer rejeita o conhecimento filosófico, antes o assume.»

Cardeal Joseph Ratzinger em “Existe Deus?”, Pedra Angular, 2009, pp. 82-83