Ao ouvir recentemente o Papa Francisco dirigindo-se aos jovens fiquei interpelado com uma coisa: a ideia de caminho. Diz o Papa que o caminho faz-se olhando para um horizonte, não um espelho.

Photo by Andreas Selter on Unsplash

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Não é fácil transmitir a importância de gerir bem o nosso olhar aos jovens quando eles nascem num mundo em que a conectividade está instalada e faz parte do quotidiano de todos a um nível sem precedentes na história da humanidade. Acontece que entre o olhar e o horizonte estamos a colocar um dispositivo electrónico que funciona de espelho e limitando o nosso campo de visão.

O caminho evolutivo da humanidade passa pelas coisas concretas. São essas os passos que fazem o caminho, mas numa era digital em que o ruído digital e excesso de informação se sobrepõem aos momentos de pausa, com tempo que exigem para ir em profundidade, o que parece ser um mar ilimitado de interacção acaba por nos limitar nos gestos e na gestão do tempo e atenção.

Se quisermos basta dar um passeio pela rua e olhar à nossa volta, sobretudo se estivermos numa cidade considerada metrópole. É impressionante a quantidade de pessoas voltadas para o seu écran, cabisbaixas, ou no sentido de tirar mais uma selfie. Como é possível fazerem caminho se o horizonte é tão curto?

A ideia de um horizonte em que o olhar contempla para fazer caminho é porque esse nos dá uma direcção e sentido. Se o nosso olhar se fixa sistematicamente num pequeno écran e a nossa boa disposição depende do número de gostos naquilo que publicamos nas redes sociais, das duas uma: ou ficamos parados; ou vagueamos sem sentido. Porém, transmitir isto aos mais novos não é fácil porque o que pensam é que estamos a sugerir algo terrível: desapego dos seus dispositivos. E a confusão instala-se.

Desapego não é o mesmo que desligar fisicamente os aparelhos. Desapego é assumir o controlo do nosso caminho colocando o olhar no horizonte e não no écran. O receio que tenho e observo nos que estão à minha volta, sobretudo os mais próximos, é não saberem sequer o que significa “olhar para um horizonte.” Ou, ainda, o que é o horizonte. E a razão é simples. Falta a experiência de horizontes. Daí que nos Estados Unidos tenham surgido iniciativas de campos de férias onde os smartphones e tablets estão interditos. O testemunho dos jovens é o de como descobriram a potência dos relacionamentos concretos e reais. Tal como no recente filme do ”Jumanji”onde uma das personagens está dependente do smartphone e daquilo que publica. Ao fazer a experiência de uma aventura sem a sua “vida digital” descobre o valor e entusiasmo das experiências concretas e reais.

É difícil partilhar o valor das experiências concretas sem tocar na ferida de os jovens acharem que os adultos desvalorizam a vida digital que existe desde que nasceram e que, por isso mesmo, acaba por fazer parte da sua vida. Cabe aos jovens dar esse testemunho e aos adultos dar o exemplo, e manterem o olhar fixo nos horizontes. É que também os adultos cederam à tentação deste espelho que não ajuda a fazer caminho. Tempo para um exame de consciência.